sábado, 16 de abril de 2011

Trem-bala ressalta desmazelo brasileiro.



Medida Provisória que autoriza o BNDES a liberar  verba para a construção do trem-bala foi debatida no Senado
Medida Provisória que autoriza o BNDES a liberar verba para a construção do trem-bala foi debatida no Senado.

A palavra manutenção não faz parte do vocabulário do brasileiro. Quem melhor define essa situação é Caetano Veloso, quando diz em sua música "Fora da Ordem" que aqui tudo parece em construção, mas já é ruína.
Somos desmazelados. Não cuidamos do que temos, e queremos sempre gastar em novas alternativas - nem sempre mais apropriadas.
O caso do Trem Bala, por exemplo. Vamos aplicar pelo menos R$ 30 bilhões nele (será bem mais, posso apostar), como foi anunciado esta semana, enquanto nossa malha ferroviária, construída com suor e lágrimas há mais de 50 anos, cobrindo quase todo o País, está sucateada.
Vendilhões do trem cederam à pressão, para dizer o menos, das indústrias petrolíferas e automobilísticas e as ferrovias foram sendo abandonadas aos poucos, até chegar ao lastimável estado em que se encontram atualmente.
O resultado óbvio dessa inversão de valores - o trem carrega mais, consome menos e não polui - é o caos em que se encontra o sistema de transporte no Brasil.
Tivéssemos a cultura de manter em bom estado nossos patrimônios públicos, muito dinheiro poderia ser economizado com novas obras e aplicado naquilo que realmente se necessita.
O trem-bala nem precisaria ser construído agora, pois teríamos funcionando normalmente o trem de passageiros que há anos ligava São Paulo ao Rio de Janeiro.
É claro que o percurso não seria feito em uma hora e meia, mas com trilhos, máquinas, vagões modernos e sem parar no caminho, seria mais rápido do que os ônibus da Ponte Rodoviária.
E do jeito que está difícil chegar de carro aos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, não duvido que em dia de chuva, nós, paulistanos, desembarcaríamos mais depressa na Cidade Maravilhosa se fôssemos de comboio, como dizem os portugueses, do que de avião.
Mas aqueles que decidem preferem deixar o mato cobrir os trilhos e dormentes atuais para não haver prova de seus atos, e investir muito mais dinheiro em uma nova empreitada faraônica.
É assim que funciona em todas as áreas nas quais os governantes do momento têm a chance de definir as "prioridades", têm a oportunidade de manipular os recursos públicos praticamente à vontade.
Paciência. Resta o consolo de que teremos, pelo menos, um trem-bala de verdade, pois, felizmente, não prosperou a ideia de José Serra que, quando governador de São Paulo, sugeriu uma solução intermediária, ou seja, de um trem "meia-bala", como disse.
Com todo o respeito, a caminho dos 70 anos de idade, provavelmente Serra foi traído pelo ato falho de comparar a velocidade desse transporte ferroviário à performance dos septuagenários.
José Luiz Teixeira é jornalista. Formado pela Faculdade Cásper Líbero, trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais as rádios Gazeta, Tupi e BBC de Londres, e os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Folha da Tarde.
Fale com José Luiz Teixeira: jl.teixeira@terra.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário