terça-feira, 31 de maio de 2011

O FERROVIARISTA D. PEDRO II.

O FERROVIARISTA D. PEDRO II. 

D. Pedro II e toda Família Imperial compareceram à inauguração da Estrada de Ferro do Corcovado,
em 9 de outubro de 1884. Foto: Arq. CEIPN

Na  história  da monarquia  brasileira,  a  figura  de  D.  Pedro  II  assume  uma posição muito especial. O único nascido na terra, tendo ocupado o trono por três quartos de todo o tempo em que vigeu o regime, D. Pedro II nos legou a imagem de uma pessoa extremamente humana, carismática, entusiasta da ciência  e  das  inovações  tecnológicas  e,  sobretudo,  um  grande  estadista. Soube se cercar de políticos e de profissionais de invejável valor, descobrindo talentos que  ilustraram, de uma maneira brilhante e permanente, a nossa cultura. E esta posição se destaca cada vez mais, à medida que vêm à luz, enriquecendo a bibliografia pertinente, as pesquisas sobre o 2º Reinado. Pelo  seu  estilo de governar  e  seu gosto pelo que  era moderno, tornou-se também  um  grande  ferroviarista.  Não  foi  apenas  a  sua  presença nas inaugurações das estradas de  ferro que  lhe  conferiu aquela virtude. Foi o papel que desempenhou na formulação da política traçada pelo seu governo na implantação das nossas estradas de ferro.

... D. Pedro II quando foi expatriado, nos legou uma malha de pouco mais de 9.000 km, dos quais quase que a quarta parte era do Estado. Usou recursos que não comprometeram, em momento algum, nem as finanças nem o crédito públicos, passando incólume, ao contrário dos nossos vizinhos, pela crise de 1873. A malha que  construiu  não era a que mais  convinha aos  interesses nacionais,  muito  fragmentada  e  heterogênea.  Mas  não  podia  ser  melhor, fosse  quem  fosse  o  governante,  porque  tinha  sido  determinada  pela economia que o capitalismo nos impôs. O ferroviarismo de D. Pedro mais se exalta quando comparamos a sua política com a que veio depois. Os republicanos não a mudaram em nada, a não ser na despreocupação  com  as  repercussões  no  Tesouro.  Continuaram  com  as concessões  autorizadas  pelo  Orçamento  do  Império,  às  quais  acresceram muitas  outras,  até  a  bolha  estourou  em  1897,  à  beira  de  um  colapso financeiro de consequências imprevisíveis. Por este motivo,  não podemos deixar de  ficar  tristes, muito  tristes, a  nos lembrar  da  exigência  ridícula  dos  republicanos  jacobinos,  de  riscar  o  seu nome da mais importante ferrovia do país.

Por:Américo Maia Vasconcelos Neto  É membro Academia Ferroviária de Letras. 











Prosas&Versos / Textos&Trilhos.

Trem do Tempo

Ferro e aço
Tempo e espaço
Cidade e sertão
História e paixão 
A saudade sobre o trilho
Vida, estrada, maquinista
Soluça o velho estribilho
Da memória anarquista 
Que o vento ecoa, ressoa, 
Insiste e resiste
Reter o apito final
Perto do canavial
Na partida deste trem
Que o destino fez refém
É a última viagem
Vão demolir a estação
Toca o sino da igreja
A aldeia lacrimeja 
O açoite da emoção
Fez calar a estação 
Quando o sonho acordar
Gente triste irá sorrir
Trem em festa vai ligar
O Oiapoque ao Chuí...

Por: Paulo Peres

“Se eu fosse um trem”:

“Se eu fosse um trem, garanto que eu seria
um trem daqueles velhos trens de outrora! 
A uma estação eu nunca chegaria 
senão depois de ter passado a hora.

O melhor da estação está na espera 
do trem que vai chegar e que atrasou. 
Se eu fosse mesmo um trem (ah, quem me dera!) 
eu seria esse trem que não passou... 
Eu seria esse trem retardatário, 
cheio de lassidão, trem proletário, 
que o povo espera sempre na estação, 
Numa esperança sempre renovada 
de que esse trem lhe traga na chegada, 
um pouco de alegria ou de ilusão!”

Por: Padre Luiz Ximenes












sábado, 28 de maio de 2011

"Causos" - Estórias do Trem.

Diálogo Telefônico 

Estavam sendo freqüentes as reclamações de 
passageiros sobre o mal atendimento que recebiam quando 
telefonavam para o guichê de vendas de passagens para os 
trens do interior, na principal estação. 
Para constatar o fato, o Diretor da Estrada de Ferro 
resolveu ligar para o guichê, sem identificar-se. 
Começou ele, então, a verificar a procedência 
das reclamações com a própria demora de atendimento. 
Somente depois de chamar várias vezes é que o telefone foi 
atendido por um Agente, de forma áspera e deseducada. 
Depois de alguns momentos de conversa telefônica,
 em que foi maltratado pelo empregado, o Diretor 
perguntou-lhe: 
- O senhor sabe com quem está falando? 
- Não. Quem é? 
- Eu sou o Diretor da Estrada, fulano de tal. 
O Agente levou um susto, vacilou por um instante, 
mas retrucou, em seguida: 
- E o senhor, por um acaso sabe com quem está 
falando? 
- Não, respondeu o Diretor. 
- Graças a Deus! Exclamou o Agente, colocando o 
fone no gancho.


Ave Noturna

Irineu, Maquinista da velha guarda da Central do 
Brasil, contribuiu muito para o enriquecimento do folclore 
ferroviário, à época da locomotiva a vapor. 
Muitas de suas estórias dizem respeito à forma 
pitoresca com que ele registrava as ocorrências de suas 
viagens, com um vocabulário próprio e ignorando as 
normas gramaticais. 
Eis a reprodução de um desses registros, transcrito 
textualmente: 
“Sr. Dotô IL - 2: 
Na curva da reta de Itaquera apagou o faró da minha 
MK. Aparei a composição e averifiquei que o vidro 
do faró e sua respectiva lâmpada estava penetrada. 
Acredito que a composição acolheu um aribu. 
Ass. Irineu de Almeida 
IMK DO RP-4 
Em tempo: Não pode ter sido um aribu, porque 
aribu não circula de noite. Na certa deve ter sido 
uma quiruja”. 
Como se vê, o Irineu podia ser bom Maquinista, 
mas, na ortografia, o seu trem andava meio atrasado.


Atraso na Manobra

Ao analisar os registros de viagem de um 
determinado trem, o Engenheiro ficou intrigado. É que 
o Maquinista registrara que, ao realizar manobras no 
pátio de certa estação, o trem sofrera um atraso de 102 
minutos. 
Não era possível que o trem pudesse se atrasar por 
tempo tão longo em uma manobra que, sabia ele, não podia 
ser tão demorada. Além do mais, o trem chegara ao seu 
destino apenas com um pequeno atraso, muito inferior aos 
102 minutos que teria perdido na tal manobra. Se esse atraso 
houvesse de fato ocorrido, não poderia ser compensado, 
pois o trecho restante da viagem era muito curto. 
Assim, intrigado com o registro, o Engenheiro 
resolveu esclarecer o caso, chamando o Maquinista. 
- Que aconteceu, senhor fulano, na manobra do 
trem ... na estação de ..., no dia... ? O senhor registrou que, 
na manobra, o trem se atrasou 102 minutos. 
- Não, doutor, eu não escrevi isso. 
- Mas, olhe, está escrito aqui, com a sua própria 
letra. 
Ao olhar o documento de registro de viagem, 
mostrado pelo Engenheiro, o Maquinista esclareceu: 
- Ah, doutor, o senhor não entendeu o que eu quis 
dizer, O que eu escrevi aí é que o trem se atrasou apenas 
“1 ô 2” minutos...

Por: Victor José Ferreira do Livro: ESTÓRIAS DO TREM - Uma viagem no folclore ferroviário.
http://www.trembrasil.org.br

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Valec diz que obras da Ferroeste em MS começam em 2012.

Patio da FERROSTE em Cascavel - Pr.  Foto: Clodoaldo Maquinista

Valec diz que obras da Ferroeste em MS começam em 2012

O superintendente de projetos da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S/A, Bruno Roque de Oliveira, disse ontem (26), em Dourados, que as obras de implantação do traçado ferroviário ligado o município aos demais centros consumidores da produção regional e nacional devem ser iniciadas até o segundo semestre de 2012.
“Essa ferrovia já está atrasada. Não há mais o que discutir. Os estudos de viabilidade econômica ficam prontos em 120 dias e até o segundo semestre do ano que vem a obra vai começar”, garantiu o representante da empresa, que foi a Dourados a convite do deputado federal Vander Loubet (PT-MS), um dos autores da proposta de realização da audiência pública, realizada pela Câmara de Vereadores, junto com os mandatos do deputado estadual Laerte Tetila (PT) e do vereador Dirceu Longhi (PT).
Segundo Roque, estão sendo finalizados os estudos do traçado Estrela do Oeste (PR) à Panorama (SP) com Dourados/Porto Murtinho (MS). Já o traçado Maracaju/Dourados/Mundo Novo (MS) à Cascavel (PR) já está sendo licitado.
O deputado Vander comemorou o resultado da audiência e destacou a agenda positiva para o município. “O evento foi muito representativo. Tivemos a presença de 11 prefeitos, que marcaram presença porque sabem a importância dessa ferrovia, que não diz respeito apenas a Dourados. Interessa a todo o Mato Grosso do Sul. Com esse traçado da Ferroeste [Ferrovia da Integração Oeste] vamos dinamizar nosso transporte de cargas”, afirmou Vander.

Valec

A Valec é uma empresa pública controlada pelo governo federal. Tem a atribuição de fazer o planejamento econômico e administrativo de engenharia ferroviária, decidir sobre a viabilidade dos projetos e ainda pode receber da União outros encargos para o incremento da malha ferroviária. O trecho em questão, debatido durante a audiência pública, vai integrar mais um estado ao núcleo de fomento à produção ao longo da Ferrovia da Integração Oeste (Ferroeste). De Dourados a Cascavel, o percurso é de 350 km e a ferrovia está incluída na planilha de prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).


Assessoria/PX

quarta-feira, 25 de maio de 2011

FERROSUL: PROJETO EM FAVOR DA VIDA, DA INTEGRAÇÃO E DA SOLIDARIEDADE.


FERROSUL: PROJETO EM FAVOR DA VIDA, DA INTEGRAÇÃO E DA SOLIDARIEDADE.

(Florianópolis, 23/05/2011) - Com expressivo público, autoridades nacionais e internacionais do Parlamento do Sul - PARLASUL e do Parlamento do Noroeste da Argentina - NOA realizaram o “Seminário FERROSUL: Compromisso do PARLASUL”. O evento foi aberto pelo presidente do PARLASUL, deputado Sílvio Dreveck (PP/SC), no  Costão do Santinho, junto à XV Conferência Anual dos Legislativos e Legisladores Estaduais - UNALE, com as presenças de cerca de mil participantes e de delegações de nove países. O Deputado Gelson Merisio, presidente da Assembleia Legislativa do Estado  e Santa Catarina, anfitrião do evento, abriu oficialmente a conferência principal.
A Professora e Economista Ceci Juruá (UFRJ), iniciou os trabalhos proferindo palestra sobre Soberania e Transporte Ferroviário no Brasil. Fez o histórico deste meio de transporte, mostrando o interesse oculto do capital estrangeiro, voltado à conquista dos nossos minérios. A soberania é a condição prévia para o desenvolvimento, advertiu, é a capacidade de auto-transformar, de produzir os próprios trilhos e de assentá-los, disse, lembrando que o progresso teria sido maior se o Estado e a Nação brasileira tivessem sido soberanos.
A seguir, o presidente do Parlasul, deputado Sílvio Dreveck, apresentou estudos neste importante meio de transporte, em detrimento de países que apresentam uma economia forte. Mostrou a situação dos trechos ferroviários em Santa Catarina, na maioria, desativados, e, o inconcebível sucateamento do patrimônio público. O sistema rodoviário está saturado, advertiu.
Dentro do mesmo painel: “A desativação de trechos na malha Sul concedida à América Latina Logística”, Lara Marina Martinez Caro, Procuradora da República em Uruguaiana, conclamou o Poder Legislativo a atuar forte em defesa do sistema ferroviário nacional. “O poder público financia e a iniciativa privada sucateia” afirmou. Disse que o Poder Público financia e a iniciativa privada sucateia” afirmou. Disse que o Poder Público Federal precisa da ação enérgica, pontual e comprometida do Poder Legislativo. “Se continuar como está não teremos mais o serviço do transporte ferroviário”.
O professor e ex-presidente da Ferroeste, Samuel Gomes, iniciou a apresentação do painel “FERROSUL: logística para a integração e o desenvolvimento”. Enquanto se produz comida farta e em quantidade para alimentar o interior do País e o mundo, baseado na Paz e na  colaboração, a região Oeste catarinense busca milho na Amazônia legal, transportado em caminhões, denunciou.
Mencionou a importância da Comissão Permanente de apoio à FERROSUL, recentemente criada pelo Conselho de Desenvolvimento da Região Sul (CODESUL), órgão que congrega os governadores da região. Citou o governador do Estado de Santa Catarina, Raimundo Colombo, que se pronunciou na ocasião advertindo que a competitividade conquistada a duras penas no Oeste catarinense está sendo perdida e não é possível agüentar o alto custo do transporte rodoviário.
A FERROSUL É VIDA – “A FERROSUL é a resposta do Sul do Brasil em favor de si própria e dos demais: A Ferrosul é vida, é alimento” disse Samuel Gomes, ao comentar a necessidade imperiosa de levar o desenvolvimento e recursos ao interior do Estado. A cadeia produtiva se concentra hoje no litoral eliminando a competividade das empresas se instalarem no interior, a resposta para inverter esta distorção se chama Ferrosul, defendeu. No mesmo painel, o Deputado Federal Pedro Uczai (PT/SC) que preside a Frente  Parlamentar das Ferrovias no Congresso Federal, qualificou de escândalo o sucateamento das ferrovias. Defendeu o transporte ferroviário, de importância estratégica para o desenvolvimento, sem o qual a circulação de riquezas, o aporte de investimentos ficam prejudicados. Citou que a importação de um milhão e meio de toneladas por ano de milho está diretamente relacionada à falta de transporte de baixo custo para escoar a produção.
Na legislatura anterior, Uczai foi autor do projeto de lei que tornou o governo do Estado de SC acionista da FERROSUL em 25%, um marco jurídico com amparo financeiro para  investimento e estudo do projeto ferroviário. Manifestou convicção em torno da construção de um projeto sério de integração ferroviária nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, integrado à frente nacional das ferrovias.
Destacou a participação do deputado Sílvio Dreveck (PP/SC), Reno Caramori (PP/SC) e do ex-presidente da FERROSUL, Samuel Gomes, na formação da Frente Parlamentar das Ferrovias e da FERROSUL. O projeto Sul-Americano de ferrovias para poder dar certo pressupõe ser de longo prazo, promovendo a solidariedade e a integração, lembrou a Professora Ceci Juruá sobre o aporte de capital externo: “O que vão nos oferecer? Mais uma vez a dívida externa?
A seguir, o deputado Sílvio Dreveck leu a Carta de Florianópolis, com o seguinte teor: Os representantes do PARLASUL, reunidos no dia 20 de maio de 2011, na cidade de Florianópolis, durante a XV Conferência da UNALE, no intuito de defender os interesses da região, após debate e discussão com os setores estratégicos para a consolidação de suas finalidade;

Decidem:

1.Reiterar enfaticamente seu apoio à criação da Ferrovia da Integração do Sul S/A –FERROSUL como empresa multifederativa de propriedade dos Estados do CODESUL, conforme as Resoluções CODESUL 1.042/2009 e 1.062/210 e as leis aprovadas pelas Assembléias Legislativas.

2.Mais que apoiar as decisões dos governadores dos Estados do CODESUL adotados na reunião realizada em Porto alegre, em 4 de abril de 2011, especialmente a criação de uma Comissão Permanente da FERROSUL no CODESUL e solicitar que as mesmas continuam uma agenda política definida, com cronograma e responsabilidades estabelecidas.

3.Manifestar reconhecimento ao Ministério Público Federal pelo trabalho realizado pelo Grupo de Trabalho sobre Transportes/Subgrupo Ferrovias em defesa do interesse público, especialmente no caso da má prestação de serviço em trechos subutilizados e desativação de trechos no sul do Brasil.

4.Criar uma Comissão da FERROSUL no âmbito do PARLASUL, com o objetivo primordial de harmonizar a ação política e legislativa dos Parlamentares dos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul para a concretização do projeto de integração ferroviária do Sul do Brasil e da América do Sul. 

5.Aprofundar nossa relação com o Parlamento do Noroeste Argentino – NOA para o desenvolvimento do transporte ferroviário, sob controle público e social, como instrumento indispensável para a integração e o desenvolvimento soberano da América do sul.

PARLAMENTARES DO NOROESTE DA ARGENTINA CONSTITUEM COMISSÃO E SE INTEGRAM À LUTA PELA INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA.

O Senador Jorge Edgardo Agüero, o Deputado Miguel Figueroa Vicário, o Deputado Marcelo Daniel Rivera, o Senador Julio Rolando, o Deputado Marcelo Rivera, aprovaram e compuseram a equipe de trabalho responsável pela criação da Comissão Parlamentar Conjunta integrando o Parlamento Noroeste Argentino - NOA ao Parlamento do Sul - PARLASUL.
As autoridades argentinas manifestaram apoio e se integraram à luta pela implantação do transporte ferroviário. “Estamos entusiasmados e comprometidos em trabalhar de forma conjunta, assegurou o deputado Daniel Rivera. O senador Julio Rolando, representando o MERCOSUL, demonstrou como a entidade institucional organizada está atuando na implantação do Corredor Bioceânico Central, até o Porto de Antofogasta, no Oceano Pacífico, Chile. A construção do túnel, na Cordilheira dos Andes, a 3 mil e setecentos metros de altura e com 14 quilômetros de extensão, é um importante passo nessa direção, informou. 

Ana Maria Baggio – MTB/SC 00197 - JP
ASSEMBLEIA LEGISLTIVA DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Gerência de Relações Institucionais / Secretaria Executiva do PARLASUL
Fone: + (48) 3221-2779 Fax: + (48) 3221-2880
gri@alesc.sc.gov.br

Procuradoria Geral da República cobra da ANTT fiscalização das ferrovias‏.


MPF recomenda que ANTT fiscalize, de fato, as concessionárias de ferrovias.

Para o Grupo de Trabalho Transportes da Procuradoria Geral da República fiscalização efetiva é fundamental para evitar o sucateamento da malha ferroviária brasileira.

O Grupo de Trabalho Transportes, da 3ª Câmara de Coordenação e Revisão (Consumidor e Ordem Econômica), da Procuradoria Geral da República, recomendou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que seja cumprida a legislação e que a agência reguladora autue as concessionárias ferroviárias no ato em que for constatada alguma infração contratual.

Para o procurador da República Thiago Lacerda Nobre, coordenador do grupo e autor da recomendação, a efetiva fiscalização do transporte ferroviário é fundamental para evitar o sucateamento do sistema ferroviário nacional, especialmente da antiga malha da RFFSA sob concessão.

Atualmente, os fiscais da ANTT não podem autuar quando constatam uma irregularidade das concessionárias de ferrovias. Eles têm ordem para apenas comunicar o problema à ANTT que, posteriormente, decide que medida administrativa aplicar. Inclusive, os fiscais sequer possuem um talonário próprio para autuar as concessionárias. A informação foi obtida pelo MPF durante uma série de reuniões que o GT Transportes vem mantendo com a agência.

Para o MPF, além de fornecer talões de multa para os fiscais, a ANTT deve manter inspeções em todas as vias, periodicamente, sempre com especialistas da região, que conheçam as especificidades regionais. A ANTT deve ainda implementar também um sistema ágil de inscrição das multas na dívida ativa da União em caso de não pagamento e cobrar judicialmente valores devidos.

Além da recomendação, o MPF pediu que na resposta seja enviado pela ANTT um relatório detalhado das multas aplicadas e, efetivamente cobradas, dos concessionários ferroviários de todo o Brasil, entre 2005 e 2010, especificando a irregularidade constatada, a concessionária responsável, o local de infração e, sobretudo, se a pendência já foi sanada.

“Não é possível que o país que quer construir o trem bala tenha um sistema de fiscalização, que deveria ser efetivo, para corrigir falhas e evitar acidentes, que prejudicam o escoamento da produção, cujos funcionários sequer tem um talão para aplicar multas”, disse Nobre.

ACIDENTES E ABANDONO - Na opinião dos procuradores da República que integram o GT Transportes, a situação das ferrovias brasileiras é preocupante. Somente na região de Jales, onde oficia o procurador Nobre, ocorreram quatro descarrilamentos que, por pouco, não tiveram vítimas e que estão sob investigação do MPF. No Estado de São Paulo, houve acidentes nos últimos anos em Americana, Bauru, Jaú e Rio Preto, cidades em que também há ações ou investigações a respeito.

No Rio Grande do Sul, o procurador da República em Santo Ângelo Osmar Veronese assinou, em conjunto com representantes da sociedade civil, uma carta entregue ao governador Tarso Genro, denunciando o abandono das vias férreas no Estado. O documento é assinado por diversas entidades, empresas e órgãos públicos da região noroeste do Rio Grande do Sul.

Segundo a carta, que cobra a retomada do transporte ferroviário em várias regiões do Estado, no “Rio Grande do Sul, dos 3.242 km de ferrovias concedidas para a América Latina Logística (ALL Malha Sul), 1.025 km, ou 32% foram abandonados unilateralmente”.

Segundo entrevista de Veronese, que também integra o GT Transportes, ao programa de rádio Direito de Todos, produzido pela PGR, o MPF em todo o Brasil busca a retomada do transporte ferroviário nas regiões abandonadas (em 1997, quando foi feita a concessão, dos 26 mil km de ferrovias concedidas, dois terços foram abandonadas, uniliteralmente, dentro do contrato de concessão). 

“O que nós queremos é que se cumpra o contrato, por que isso representa proteção ao patrimônio público investido nessas malhas, também a proteção ao patrimônio histórico e representa, fundamentalmente, o desenvolvimento sócio-econômico equilibrado. Não estamos contra novos projetos de ferrovias, só que isso não significa que nós temos que virar as costas para as ferrovias que já existem”, afirmou.  

Para o GT Transportes, o fato de que os contratos de concessão previram que apenas 1/3 da malha ferroviária seria mantida em funcionamento não significa que os trechos não-aproveitados comercialmente deveriam ser abandonados, como ocorre, por exemplo, no litoral sul de São Paulo, onde mato de mais de dois metros de altura e dormentes podres ocupam o espaço do que um dia foi uma ferrovia.  

“Estima-se que a manutenção anual de cada km de linha férrea seja de R$ 2 milhões. Imagine o rombo quando o Estado resolver retomar um trecho abandonado”, afirma Nobre. Apesar do estado atual de abandono das ferrovias constatado pelo MPF, em abril de 2009 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou R$ 2,15 bi para a ALL, a maior concessionária ferroviária do Brasil, tocar seu plano de investimento no período 2009 e 2012.

Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Estado de S. Paulo
Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Que dia é hoje? 23/5/1822 - Começam as obras da primeira ferrovia do mundo.

Que dia é hoje?

"Locomotion nº 1", a locomotiva pioneira de George Stephenson, que inaugurou a primeira ferrovia do mundo - de Stockton a Darlington - no dia 27 de setembro de 1825.


23/5/1822 - Começam as obras da primeira ferrovia do mundo.
A primeira ferrovia do mundo foi construída na Inglaterra, entre as cidades inglesas de Stockton e Darlington, possuindo em torno de 60 quilômetros de extensão e inaugurada em 27 setembro de 1825.

Ela foi desenvolvida para ligar minas de carvão e para transportar passageiros. Os trens atingiam uma velocidade de cerca de 45 km/h. O mentor deste invento foi George Stephenson, que dedicou anos de sua vida à  realização do projeto.




A POLÍCIA MAIS ANTIGA DO BRASIL. POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL.


NOSSA HISTÓRIA

POLÍCIA FERROVIÁRIA FEDERAL Ela nasceu no tempo do império, sob as bênçãos de dom Pedro II, com o prestígio do tamanho de sua responsabilidade: cuidar da riqueza do Brasil, transportada em trilhos de ferro. Foi a primeira corporação policial especializada do país. Hoje, 157 anos depois, ela ostenta outro título, com bem menos glamour: o de menor polícia do mundo. A privatização das ferrovias brasileiras, em 1996, atirou definitivamente a Polícia Ferroviária Federal (PFF) no esquecimento: poucos sabem que ela existe, apesar da previsão constitucional. O efetivo de 3,2 mil homens antes das concessões se reduziu a 780, para fiscalizar 26 mil quilômetros de trilhos, destinados ao transporte de carga. Em Minas, estado com a maior malha ferroviária, são 17 homens, mas apenas seis trabalham. Férias e licenças médicas desfalcam ainda mais a corporação.Se existe um choque entre o passado glorioso da “Polícia dos Caminhos de Ferro”, como foi chamada em 1952, e a realidade, outras incoerências marcam a história da corporação. Legitimada pela Constituição, ela foi contemplada com um órgão administrativo – Departamento Nacional de Polícia Ferroviária Federal, ligado ao Ministério da Justiça. Em 1993, foram criados cargos em comissão para montar a estrutura da PFF e nomeado um diretor. Ele ocupou o cargo por sete anos, mas conseguiu a façanha de comandar apenas ele próprio neste período, pois o efetivo da polícia não foi transferido para o Ministério da Justiça. Seus comandados, depois das concessões das ferrovias, foram distribuídos para os ministérios dos Transportes e das Cidades. Hoje, parte deles fiscaliza o transporte de carga e outra, os trens de passageiros urbanos.O tamanho do abandono a que foi atirada a Polícia Ferroviária pode ser traduzido nos mais diversos números. Desde 1996, com a desarticulação da corporação, já foram roubados 500 quilômetros de trilhos e dormentes, uma dilapidação no patrimônio da Rede Ferroviária Federal, hoje em liquidação, estimados em R$ 12 bilhões. Além disso, pelo menos 10 mil quilômetros de ferrovias, não-privatizadas, estão abandonadas à própria sorte, com registro de várias invasões nas faixas de domínio. O último concurso para a corporação vai completar 18 anos e todo os seus agentes têm mais de 40 anos. No Rio, a falta de investimentos ainda é mais sentida. Sua frota de 33 carros é toda do longínquo ano de 1989. Eles descansam em um prédio da extinta rede ferroviária, porque estão sucateadas.O revés vivido pela “polícia do império” pode ser retratado também pelos inúmeros decretos e leis editados no país desde a sua criação. São quase duas dezenas deles desde 1862, quando foi criada. Ao longo de 157 anos, a Polícia Ferroviária recebeu também diversos nomes. Ela foi criada com o pomposo título de Polícia dos Caminhos de Ferro, se transformou em Polícia das Estradas de Ferro e, no período de 1945 a 1988, os seus homens viram suas funções receber diversas nomenclaturas como de guarda civil ferroviário, investigador ferroviário, guarda ferroviário, agente de segurança, agente especial de segurança e finalmente agente de segurança.


http://www.youtube.com/watch?v=2tp8EhzGf3M

http://www.eev.com.br

domingo, 22 de maio de 2011

Anedotas do setor ferroviário.

Apareceu Emprego No Sertão

Lá nas entranhas de Tabuí tem uma serra. Serra do Urubu. No pé da serra, um rio, o Sorongo. Ladeando o Sorongo, a estrada de ferro. Bem antes da ponte, a estaçãozinha que desmoronou. Restou o desvio, com as alavancas e trilhos enferrujados. Entre as duas, - estaçãozinha e ponte -, o corte, com um barranco de uns 30 metros e lá vai pedrada. Lá de cima do barranco, Totonho aprecia o movimento dos trens que passam rápido, 20 a 30 km por hora, no máximo uma vez por dia. Totonho não perde um. Ouve o ronco do bicho, tá lá ele, em cima do barranco, dicocado, fazendo pitinho, vendo o trem passar.

Turma da estrada de ferro resolve colocar Totonho pra cuidar do que restou da velha estação. Foram fazer teste com o velho.

- Totonho, se a ponte do Sorongo cair e o trem tá vindo, o que o senhor faz?

- Vô ali e mudo a chave da lavanca do desvio pro trem mudá de rumo e pará, uai!

- E se a chave estiver estragada?

- Aí arranjo um pano vermeio, vô pra riba da linha e fico banano. Aí o maquinista me vê e pára o trem!

- Mas, Totonho, e se o maquinista não o vir, se estiver cochilando?

- Aí acho que é mais mió eu tê sempre um apito, quinem desses de juiz de futebol, e apitá até o trem pará...

Totonho foi ficando agoniado com tanto perguntamento. Doido pra garantir o emprego e ganhar uns trocados.

- Mas, Totonho, e se o trem vier à noite?

- Aí só tem um jeito: eu acendo uma fogueira pro maquinista me vê e grito e pulo até ele pará o trem!...

- Mas, fogueira, Totonho!? E se estiver chovendo?

- Aí, meu Deus!... Aí o recurso é eu tê tamém uma lanterna e fazê pisca-pisca pro maquinista, uai!...

- Tudo bem, Totonho! Suponhamos agora que você tem a lanterna, mas não tem pilha?... O que você faz?

Totonho entregou os pontos. Desanimou de ganhar o emprego.

- Óia, meu amigo, aí não tem jeito não! É muita disgraça prum cristão só. Aí eu chamo a Cota!

- Chama a cota? Que cota, Totonho?

- Óia, moço, Cota é minha muié. Chamo ela, a gente vai pra riba do barranco, acendo meu pitinho e vamo oiá e escuitá o trem disgringolá e virá pedaceira, todo espatifado, dendo Sorongo, uai!...


Por: Eurico de Andrade em http://www.webartigos.com





 Teste pra trabalhar como maquinista


 - Um bagual desempregado no interior do Rio Grande, foi até Porto Alegre, fazer um teste na Rede Ferroviária Federal, pra trabalhar como maquinista. Após a entrevista, o examinador fez uma pergunta:
- Se dois trens estiverem vindo em sentido contrário, o que tu farias?
- Bueno, eu viro a chave do desvio!
- E se a chave falhar?
- Daí eu uso o lampião sinalizador!
O examinador deu mais uma apertada:
- E se não houver lampião?
- Bueno, vou correndo chamar meu irmãozinho.
- Mas porque vai chamar teu irmãozinho?
- Porque ele adora porrada de trem!



http://www.umbaianonosul.lemossilva.com.br

sábado, 21 de maio de 2011

Redação de alunos vencedores do concurso sobre a Ferroeste.

O concurso teve duas modalidades: Narrativa de Aventura, para as séries finais do Ensino Fundamental, e Artigo de Opinião, para o Ensino Médio. A seleção das redações foi realizada por uma banca examinadora composta por professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UniOeste), coordenada pela professora Carmen Teresinha Baumgartner. 


As vencedoras foram as alunas Daniele Rabel dos Passos, do Colégio Estadual Rio do Tigre, de Laranjeiras do Sul, na categoria Artigo de Opinião, com o título “Ferroeste rumo ao Progresso”, e Thays Juliana de Souza, do Colégio Estadual Olivo Fracaro, de Cascavel, na categoria Narrativa, com o título “Romero e a estação”. Confira as redações das ganhadoras dos prêmios: 



"Ferroeste rumo ao progresso"


A Ferroeste foi criada em 1988 com projetos audaciosos. Avanços e retrocessos fizeram parte da história dessa ferrovia que por um longo período ficou privatizada. Com o não cumprimento do contrato pelo consórcio Ferropar, a empresa volta a ser estatal, retomando metas, objetivos e projetos para a melhoria dos trilhos no Paraná, bem como reforçando ainda mais a sua importância para a região.
O meio de transporte ferroviário apresenta grandes vantagens em relação aos outros transportes, é um dos mais baratos, pois transporta grandes quantidades em grandes distâncias. O custo por tonelada é um dos mais baixos. É rápido e seguro, destaca-se por ser um dos meios de transporte menos poluentes.
Nesse sentido a Ferroeste já assume um papel de destaque na economia da região tanto na oferta de empregos diretos e indiretos como no escoamento e armazenamento de produtos agrícolas e principalmente na exportação de produtos, servindo de eixo de integração entre as cidades paranaenses e destas para outras cidades e para outros países.
Portanto a expansão da Ferroeste vai garantir mais crescimento econômico em uma escala muito mais abrangente, pois ela tem a intenção de aumentar sua malha ferroviária, propiciando a produção de vários estados chegar ao porto de Paranaguá de forma mais rápida e barata, desta forma os agricultores tem um custo menor e consequentemente mais lucro. Toda a região seria beneficiada e ainda estaríamos contribuindo para um meio ambiente mais limpo e preservado.



CATEGORIA ARTIGO DE OPINIÃO
Autora: Daniele Rabel dos Passos - 3º ano do Ensino Médio - Colégio Estadual Rio do Tigre - Laranjeiras do Sul




"Romero e a estação"


Há certo tempo viveu Romero, um andarilho que vivia em uma estação de trem abandonada, junto com seu cachorro, Val. Ele era um homem solitário, pois ninguém tinha coragem de chegar perto da estação porque diziam ser mal-assombrada. Romero nem ligava, porque não acreditava nessas coisas, até que numa noite, quando ele se preparava para dormir, ouviu três batidas em um dos vagões. Val saiu correndo e latindo desesperado. Romero se levantou e foi ver o que era, quando ele olhou para o vagão notou que estava escrito de vermelho, bem grande: “SOCORRO!”. Romero ficou assustado, não tinha ação, ficou parado olhando aquilo e mal sabia ele que daquele dia em diante, ele nunca mais teria sossego.
Uma semana se passou e nada aconteceu até que numa sexta-feira à noite, quando estava andando pela estação ele ouviu novamente aquelas três batidas. Correu para ver quem era e quando chegou perto viu uma menina que brilhava muito e chorava pedindo socorro a Romero. Ele ficou pálido, mas teve coragem de perguntar o que ela queria.
A menina explicou que era filha de um maquinista aposentado e que estava triste porque não ouvia mais o apito do trem. Ela pediu que Romero ajudasse a estação a voltar a funcionar. E Romero jurou ajudar.
Ele procurou o pai da menina e contou a história. O homem ficou muito feliz por ter notícias de sua filha e foi procurar o prefeito e contou que queria reabrir a estação.
O prefeito gostou da ideia porque precisava melhorar o transporte da cidade e prometeu se empenhar.
Romero e o maquinista foram encontrar com a menina e contaram que todos queriam que os trens voltassem para a cidade e ela ficou feliz e sumiu nas nuvens.



CATEGORIA NARRATIVA
Autora: Thays Juliana de Souza - 7ª Série - Colégio Estadual Olívio Fracaro - Cascavel
http://www.ferroeste.pr.gov.br







quarta-feira, 18 de maio de 2011

É de trem que eu preciso.

É de trem que eu preciso

 

Cada batida da roda no trilho é uma paisagem nova que a janela improvisa. Não nova no sentido de novidade, mas verde quando é pampa, azul quando é serra, infinito quando é água. O tranco do passo da locomotiva leva o vagão para a curva do destino. A fila de imagens que não canso de olhar é o cinema que me falta. Amanhecer ao lado da grande tela de vidro embaçado é antever o sol que ainda não veio, e basta uma lufada de mão na neblina cristalizada para ver um raio que atinge o pássaro ao pé de um riacho, a ponte inútil de madeira comida, o gado esparso na grama cercada. Mais um pouco de luz e tudo se descortina, principalmente a viagem que talvez agora chegue ao fim, depois de uma noite mal dormida, em meio à população que se dirige a algo que não entende, a vida passada em trajetos sem sentido. Ao meio dia é hora do almoço na estação antiga e conviver com o cheiro de panela de ferro, arroz de outras vidas, talvez com o gosto de infância ou de liberdade. A carne que só existia naqueles lugares ermos, para onde jamais voltaremos, mas que ficam no corpo como sinais incompreensíveis. O refrigerante em garrafas escuras, que guardavam licores abandonados, e as prateleiras onde se divisava um rádio de ondas curtas, que pegava a guerra distante e a música que sumiu totalmente do mapa.
Estrada
 
É de trem que eu preciso, para chegar ao tempo que me absolve. Não se trata de fugir ou de puxar a memória como um elástico frio. Mas de viajar de novo, enquanto o país desmoronado nos permite uma trégua e haja homens de chapéu e senhoras de véu na cabeça e adolescentes como nós, empertigados em nossas roupas providenciadas pela mãe que nos deus adeus no ponto de partida. Ela ficou lá plantada, enquanto, ingratos, sumíamos para o futuro, aquela mãe que não nos abandona e reza por nós enquanto fazemos alarido nos bancos esfolados de couro velho. Passeamos pela serpente enferrujada, apertados em corredores de bancos ou de dormitórios precários, até chegar ao restaurante onde arriscávamos uma cerveja fabricada na beira daquela estrada, porque o mundo se localizava no lugar onde estávamos e não era essa confluência de nadas, em que não nos deciframos, mesmo que tenhamos certeza de que é assim que seria, e nada poderíamos mudar com nossas calças curtas, nossa camisa de jersey, nosso cabelo engomado, nossa escassez de criaturas datadas.
 
 
Mala
 
Queríamos saber o que o arco-íris nos reservava, sem atinar que o trem era o que passaríamos a vida buscando. Não era nossa intenção ficar fixos neste eterno presente, em que não se tolera reminiscências, e quando elas existem é para mentir sobre o que fomos um dia. Por isso faço a mala, ponho meu terno azul marinho, e envergado sobre mim traço a viagem de volta. Aguardo junto com outros passageiros que, como eu, voltam para reencontrar o que deixamos para trás. Estamos novamente enganados. Não é no fim da linha que teremos novamente o café com pão da família perdida, nem na cidade que deixamos por mero capricho. É esse retorno que nos incomoda, porque há desconforto, noite mal dormida, solavancos. E talvez o trem atrase outra vez, já que ele não existe mais, mas teima em ficar parado algum tempo embaixo da lua cheia, enquanto ficamos aflitos à espera do reinício do impulso que nos carrega.
 
Teto
 
Nunca vamos aprender que andar é o caminho, e que os destinos, no começo ou no final da jornada, são mais precários do que qualquer sonho despertado no meio da noite, quando vemos o teto do vagão sumir para que possamos ver as estrelas. Isso tem me acontecido ultimamente. Deito e olho para cima e vejo novamente o céu que deixei há poucos instantes. Com todas as estrelas e fiapos de nuvens, o que torna a visão ainda mais verossímel. É como acampar sem barraca, contar estrelas cadentes, seguir o risco de satélites que usam as constelações como parada. No fundo da madrugada, o trem pára novamente. Olhamos pela janela, que também dorme. Uma luz cercada pelo fogo fátuo das mariposas nos diz que ali é um ponto conhecido, por onde passaremos mais uma vez em direção ao que não nos consola. Crianças se agitam, senhores do povo conversam baixo sobre pescarias e negócios. Há um cheiro de cabelos engomados, de chapéu de feltro, de xales de lã. Onde estou? me pergunto.
 
Talismã
 
Estou no meio do meu ofício, que é tentar entender a passagem obscura pela terra envolta em mistério. Estou só, como a criança que adormece no crepúsculo e acordo na boca da escuridão com um solavanco. Ela vê o homem fardado passar com seu boné de autoridade máxima da viagem. O homem recolhia passagens quando todos se aboletaram pelos bancos. Agora ele vigia o sono de quem escolheu esse momento para percorrer a trilha insana de uma vida. A criança fecha novamente os olhos e o embalo da serpente emplumada o leva para longe. Para lá, onde a poesia dorme e as palavras soltas como um rebanho pastam no esplendor de uma revelação. Nada nos salvará desse enigma. Por isso agradecemos a Deus quando o dia firma e alguém oferece um café recém feito, uma bolacha dormida ou um jornal comprado na corrida numa parada qualquer. Entre um gole e a mordida do trigo providencial, vemos estampada na primeira página nosso rosto adulto, a nos olhar com ar sagrado da santidade. Para esse rosto rumamos, carregando a infância como um talismã. Ela está dentro de uma pequena caixa, que guardamos no sobretudo. Da tampa aberta, salta a bailarina, ao som de uma valsa tocada por cristais e acompanhada pelo brilho de diamantes de um filme que vimos no cinema lotado, quando havia cinema e quando éramos a alegria da criação em desencanto.