Diálogo Telefônico
Estavam sendo freqüentes as reclamações de
passageiros sobre o mal atendimento que recebiam quando
telefonavam para o guichê de vendas de passagens para os
trens do interior, na principal estação.
Para constatar o fato, o Diretor da Estrada de Ferro
resolveu ligar para o guichê, sem identificar-se.
Começou ele, então, a verificar a procedência
das reclamações com a própria demora de atendimento.
Somente depois de chamar várias vezes é que o telefone foi
atendido por um Agente, de forma áspera e deseducada.
Depois de alguns momentos de conversa telefônica,
em que foi maltratado pelo empregado, o Diretor
perguntou-lhe:
- O senhor sabe com quem está falando?
- Não. Quem é?
- Eu sou o Diretor da Estrada, fulano de tal.
O Agente levou um susto, vacilou por um instante,
mas retrucou, em seguida:
- E o senhor, por um acaso sabe com quem está
falando?
- Não, respondeu o Diretor.
- Graças a Deus! Exclamou o Agente, colocando o
fone no gancho.
Ave Noturna
Irineu, Maquinista da velha guarda da Central do
Brasil, contribuiu muito para o enriquecimento do folclore
ferroviário, à época da locomotiva a vapor.
Muitas de suas estórias dizem respeito à forma
pitoresca com que ele registrava as ocorrências de suas
viagens, com um vocabulário próprio e ignorando as
normas gramaticais.
Eis a reprodução de um desses registros, transcrito
textualmente:
“Sr. Dotô IL - 2:
Na curva da reta de Itaquera apagou o faró da minha
MK. Aparei a composição e averifiquei que o vidro
do faró e sua respectiva lâmpada estava penetrada.
Acredito que a composição acolheu um aribu.
Ass. Irineu de Almeida
IMK DO RP-4
Em tempo: Não pode ter sido um aribu, porque
aribu não circula de noite. Na certa deve ter sido
uma quiruja”.
Como se vê, o Irineu podia ser bom Maquinista,
mas, na ortografia, o seu trem andava meio atrasado.
Atraso na Manobra
Ao analisar os registros de viagem de um
determinado trem, o Engenheiro ficou intrigado. É que
o Maquinista registrara que, ao realizar manobras no
pátio de certa estação, o trem sofrera um atraso de 102
minutos.
Não era possível que o trem pudesse se atrasar por
tempo tão longo em uma manobra que, sabia ele, não podia
ser tão demorada. Além do mais, o trem chegara ao seu
destino apenas com um pequeno atraso, muito inferior aos
102 minutos que teria perdido na tal manobra. Se esse atraso
houvesse de fato ocorrido, não poderia ser compensado,
pois o trecho restante da viagem era muito curto.
Assim, intrigado com o registro, o Engenheiro
resolveu esclarecer o caso, chamando o Maquinista.
- Que aconteceu, senhor fulano, na manobra do
trem ... na estação de ..., no dia... ? O senhor registrou que,
na manobra, o trem se atrasou 102 minutos.
- Não, doutor, eu não escrevi isso.
- Mas, olhe, está escrito aqui, com a sua própria
letra.
Ao olhar o documento de registro de viagem,
mostrado pelo Engenheiro, o Maquinista esclareceu:
- Ah, doutor, o senhor não entendeu o que eu quis
dizer, O que eu escrevi aí é que o trem se atrasou apenas
“1 ô 2” minutos...
Por: Victor José Ferreira do Livro: ESTÓRIAS DO TREM - Uma viagem no folclore ferroviário.
http://www.trembrasil.org.br
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