quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A despedida da princesa e o caso da ferrovia não terminada.

...Curityba me deu saudade
de você e de seu sotaque
e hoje à mercê desse sentimento ingrato
pegarei um ônibus lotado
e vou pra almirante tamandaré.

Fragmentos do Poema de William Teca 

A princesa Isabel e seus filhos despediram-se de Curitiba no dia 13 de dezembro de 1884, após passarem quatorze dias entre a capital e o interior do Paraná. Pegaram o trem para Paranaguá a poucos quilômetros da estação em frente à rua da Liberdade – atual Barão do Rio Branco – pois os trilhos ainda não haviam sido assentados até o fim. Conde d'Eu seguia viagem pelo interior até Santa Catarina, onde iria se encontrar com a esposa dias depois.


Cartão postal com a estação de Curitiba da estrada de ferro do Paraná, por volta de 1900. (Fonte: chimbica91.wordpress.com)

Na carta diário que a Redentora – como era conhecida por defender a causa abolicionista – enviou a seus pais, Dom Pedro II e Dª Tereza Cristina, foram poucas as palavras sobre a partida. “Volta a Paranaguá. Dia, outra vez, esplêndido para a descida da serra. Fizemos parar, por vezes, o trem, para apanharmos flores novas para nossa coleção” - estas observações sobre a flora, que aparecem em diversos momentos na sua carta, devem-se ao seu grande interesse por botânica.

Nos bastidores, uma corrida para que a estrada estivesse pronta para os festejos da Emancipação Política do Paraná, que completaria 31 anos. No entanto, tão perto de chegar ao seu final, após cinco anos em obras, parecia patinar em acertos burocráticos na capital. Isto ao menos é o que conta o correspondente do Diário de Notícias do Rio de Janeiro.

 A rua da Liberdade vista da estação da estrada de ferro, seis anos após a visita da princesa. À esquerda hoje fica a Praça Eufrásio Correia e o Palácio Rio Branco. (Foto: Acervo Casa da Memória)

“Em Curitiba tem havido o diabo com o assentamento dos trilhos da estrada de ferro do Paraná. O Sr. commendador Martins Franco, em cujas terras passa a estrada, embargou as obras, e pede 16:000$ de indemnisação. Segundo nos consta, o Sr. Dr. Teixeira Soares, engenheiro-chefe da estrada, vai depositar a quantia pedida e acceitar a acção judiciaria, afim de poderem proseguir os trabalhos de assentamento dos trilhos, que estão distantes da estação central, em Curityba, apenas 4 kilometros e 600 metros. Mais dois dias de trabalho e a machina soltará o seu silvo do progresso na esperançosa cidade de Curityba.” Escreveu isto no dia 8 daquele mês, com a publicação no Rio de Janeiro somente dias depois, na edição 361 (26 de dezembro), pois as reportagens chegavam pelo correio. Mas foi no dia 13 de dezembro que o correspondente soltou toda a sua indignação em texto, ao relatar a partida da princesa, pois as obras ainda não haviam terminado como ele esperava. “Por causa da camara municipal da capital da provincia, tiveram SS. AA. Imperiaes, a Sra. Princeza e seus filhos, sua comitiva, de percorrer em carro, cerca de 2 kilometros para alcançar a ponta dos trilhos da estrada de ferro do Paraná, que devido á patriotica camara não chegou ainda ao seu termino.”


36 anos após a visita da Redentora, as redondezas da Estação mostram-se urbanizadas. Em primeiro plano, a praça Eufrásio Correia. (Foto: Acervo Casa da Memória)

Contou ele de um novo embargo à obra, administrada pela companhia Génerale de Chemins de Fèr Brésiliens. “Agora é a camara municipal de Corityba da capital da provincia, quem embarga as obras, por passarem os trilhos pelas terras municipaes, exigindo para levantar o embargo a grande quantia de 1:500$000.” Mais adiante, no mesmo texto, prosseguiu: “Quando se encetaram os trabalhos d'esta estrada, a camara municipal de Paranaguá, deu um notavel baile aos engenheiros, e fez votos para que a estrada continuasse. Vencidos os primeiros 40 kilometros chegou a machina á cidade de Morretes e a respectiva municipalidade, considerou esse acontecimento como um dia de festa, e houve grande pagodeira”.

Segundo ele, faltavam apenas 3,2 quilômetros para a conclusão da ferrovia quando houve o embargo. “Vejam os leitores se isto é coherencia. Perto da cidade, havia um grande pantano, a camara municipal de Corytiba dirige-se ao engenheiro chefe dos trabalhos da estrada e pede-lhe para fazer alli a estação. O engenheiro, accede ao pedido, faz a estação, com a qual gastou 114:000$, dessecca o pantano, e dá com isso á cidade outras condições de salubridade;  A camara municipal apanhou-se servida e no momento em que a assembléa provincial, sem duvida mais empenhada pelo engrandecimento da provincia, pede o prolongamento da estrada, vem a camara municipal e embarga-lhe as obras. Não farei mais commentarios e apenas direi que o que a camara municipal e a assembléa deviam pedir, não é vias de communicações faceis, baratas e rapidas como os outros paizes, - é cathechese, porque ainda estão muito selvagens estes povos.”


Da esquerda para a direita, Conde d'Eu (Gaston), Pedro, Antonio, Isabel e Luís, em 1885. (Foto: Alberto Henschel - De Volta a Luz: Fotografias Nunca Vistas do Imperador. Instituto Cultural Banco Santos, 2003)

Ele continuou fazendo duras críticas à Câmara e também à cidade: “Ao passo que a camara de Corityba, de gloriosa memoria, oppõe-se abertamente ao progresso da provincia, esquece-se dos seus deveres, deixa que a cidade continúe immunda, sem calçamento, e as ruas cheias de atoleiros e de pó. Quando chove não se póde sahir de casa, quando não chove o pó é tanto que suffoca os transeuntes. Só quem vem ao Paraná é que póde avaliar a miseria em que se acha a provincia, cuja capital é inferior ao bairro do Engenho Novo ou de Todos os Santos ahi no Rio de Janeiro. O Paraná nada tem, e o que possui é mau e pessimo; começando pelas ruas, passa-se á cadeia que é um attentado ao progresso, á civilisação e á higyene, e faz-se ponto na camara municipal de que fallo, que está de cutello erguido contra tudo que seja elemento de grandeza para estra provincia que é patrimonio de duas famílias, que põem e dispõem a seu bel prazer. Digo estas verdades porque estamos em tempo, atravessamos um periodo em que é preciso pintar a cousa tal qual é, sem medo, nem rebuço.”
Não foi de se admirar o pedido de embargo realizado pela Câmara. Era ela o poder administrador da cidade – a figura do prefeito tornou-se efetiva somente após a Proclamação da República – e pelos motivos que o próprio repórter elencou, era preciso dinheiro para investimentos. O valor exigido para levantar o embargo, portanto, fazia-se evidentemente necessário. Para uma obra que durou cinco anos, tendo enfrentado desafios como as construções do Viaduto do Carvalho e a Ponte São João, mal algum faria ser prolongada por mais alguns dias. O fato é que, no dia 19 de dezembro, data da Emancipação Política do Paraná, foi definitivamente concluída – a estação ainda tinha com alguns detalhes por terminar. A inauguração ocorreria no dia 2 de fevereiro do ano seguinte.


A princesa Isabel veio a Curitiba em 1884 para a primeira viagem oficial da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá. Não foram encontrados registros fotográficos da família imperial na capital paranaense, portanto, tentamos reproduzir a cena. (Foto das crianças e conde d'Eu: Alberto Henschel; Foto da Princesa Isabel: Joaquim Insley Pacheco; Montagem: Marcio Silva/CMC e Andressa Katriny/CMC)

O Dezenove de Dezembro, periódico que circulava no Paraná, nada relatou a respeito do embargo, mas ao noticiar a partida da família imperial, cumprimentou os “distinctos collegas da imprensa da côrte da Gazeta de Noticias [do Rio de Janeiro] e do Paiz, os Srs. Maximino Serzedello e José Vinhaes”. “A' tão distinctos cavalleiros, que em tão pouco tempo tanta sympathia grangearam do povo desta capital, apresentamos nossos cumprimentos, desejando prospera viagem correspondendo á delicada cortesia com que vieram despedir-se do proprietário de nossa folha”. Na redação, obviamente, ainda não haviam lido o jornal carioca, que seria publicado somente no dia 1º de janeiro de 1885, devido à demora dos correios da época.

Notas:1) As citações de atas e notícias, entre aspas, são reproduções fieis dos documentos pesquisados. Por isso, a grafia original não foi modificada.
2) Ao utilizar ou se basear em textos históricos do nosso site, por gentileza, cite a fonte.
Referências bibliográficas:Edição 361 - Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – 26 de dezembro de 1884
Edição 001 - Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro – 1 de janeiro de 1885
A estrada de ferro Paranaguá-Curitiba. Uma obra de arte.
Edição  291 - O Dezenove de Dezembro – 14 de dezembro de 1884Boletim Especial do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense. Comemorativo ao Sesquicentenário da Independência do Brasil 1822-1972. (Volume XV, ano 1972).


Por Michelle Stival da Rocha – Jornalista da Diretoria de Comunicação da Câmara Municipal de Curitiba.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A ESTAÇÃO ARAUCÁRIA.

A lembrança da infância é o único sonho real que nos resta na fase madura da vida, os demais são infelizmente meras utopias. Maquinista Clodoaldo

A antiga estação ferroviária que era de madeira foi consumida por um incêndio em Outubro de 1961, deixando um saldo trágico com a morte do agente Sr. Ladi Azevedo.
A estação de madeira que pegou fogo em Outubro de 1961.

Já em 1962 foi construído em alvenaria um prédio para a estação e uma casa para ser a residência do novo agente. Veio para chefiar esta unidade da RVPRSC o Sr. Cornélio Kaminski que também desempenhou a função de agente nas estações ferroviárias de Rio da Várzea, Nova Restinga, Desvio Ribas e Engenheiro Lange. 

No centro da foto o Sr. Cornélio Kaminski, à sua direita Sr. Jofre de Andrade
e à sua esquerda o Sr. João Guimarães que depois de aposentado ele fez as
cobranças da Sociedade Operaria e do Clube União Araucariense.
Foto do acervo de Moacir Kaminski.

Nesta época o Município de Araucária possuía quatro estações férreas que servia para embarque e desembarque de passageiros e carga e descarga de mercadorias, a primeira era situada no Bairro Estação, segunda na localidade de Passauna,  a terceira no Distrito de Guajuvira e a outra na localidade de General Lúcio. Além do agente Cornélio, faziam parte da equipe que atuava na Estação de Araucária os telegrafistas Carlos de Lima, Ernesto Lemos e João Guimarães, como manobristas e guardas chaves Jofre de Andrade, José de Andrade, José Perini e Cristiano Rodrigues.  A equipe que fazia a manutenção do trajeto da linha que pertencia à Araucária, chamada de turmeiros era chefiada pelo Mestre de Linhas SR Joaquim de Oliveira Godoy. A partir de 1975 toda esta malha ferroviária passou a pertencer a RFFSA. Em 1977 a nova estação foi desativada e demolida, o leito da linha deu lugar a uma parte da rodovia PR 423 que liga Araucária a Campo Largo e outras duas foram construídas no novo traçado da linha que desviou o Bairro Estação. A primeira delas foi construída para servir apenas como embarque e desembarque de passageiros, mas isso nunca aconteceu apesar de uma tentativa de criar um passeio com locomotiva “Maria Fumaça” entre Araucária e a cidade da Lapa, a segunda que serve como terminal de manobras e para cargas e descargas foi construída no Jardim Itaipu e hoje abriga uma grande quantidade de vagões e pertence à RUMO.

No centro da foto, de gravata, está o Sr Ernesto Lemos um dos telegrafistas da
estação. Os demais da D para E (do Ernesto) : Irineu e Aloísio Trzeciak, Dionísio Baja,
Lídio Esmanhoto, Ademar Surek,, Luiz Madureira, João Manuel Kaminski e
um garoto que eu não consegui identificar.
Foto do acervo de Moacir Kaminski.

A estação sempre foi um ponto de encontro da moçada do bairro. Nesta, em pé Cadorin,
Dionísio Baja com a mão na cintura. Sentados: E para D : Luiz Elirio Baja, Rogério Jasiocha
e Moacir Kaminski.
Foto: acervo de Moacir Kaminski.

Na foto: Sr Jofre de Andrade, ocasião que ele estava trabalhando na estação
da cidade de Rio Negro, PR.
Foto: acervo de Eliseu de Andrade.

Estação do Passauna, também funcionou somente até 1977.
Foto: Acervo da ABPF do PR.

Estação de Guajuvira numa época de enchente do Rio Iguaçu.
Foto: acervo de Estevão Wagner II.

Estação construída no bairro Chapada, em 1977, para atender embarque e desembarque
de passageiros, mas isso nunca ocorreu. Ela foi edificada nas margens da Rod.
do Xisto. Foto Luiz H. Bassetti 

O patio da atual estação de manobras em Araucária "LAR", Bairro Itaipu, hoje pertence
à Rumo. Foto Luiz H. Bassetti

Fonte http://rjasiocha.blogspot.com.br/

Histórias do meu Bornal

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