sábado, 30 de abril de 2011

30 de Abril dia do FERROVIÁRIO.

HOMENAGEM AO DIA DO FERROVIÁRIO

Nos trilhos desta nação
Vai a cura da saudade
O progresso da cidade
Muito amor e emoção
Trem é pura nostalgia
É prazer e alegria
Exaltar em poesia
A citada condução

Produtos e passageiros
Trafegam de sul a norte
Por meio desse tranporte
Decerto um dos pioneiros
Que trouxeram para cá
A ferrovia Mauá *
No livro de história está:
Primeira dos brasileiros

O sistema em comento
Conta c'os trabalhadores
Denodados lutadores
Para o seu funcionamento
Por sinal, no calendário
Dia é desse funcionário
Abraço, ferroviário
Receba meu cumprimento!

* Estrada de Ferro Petrópolis, inaugurada em 30 de Abril de 1854, também conhecida como Estrada de Ferro Mauá.
Por: Jerson Brito

sexta-feira, 29 de abril de 2011

HOMENAGEM AO DIA DO FERROVIÁRIO.

Foi assim que tudo começou:

"Hoje dignâo-se Vossas Majestades de vir correr a locomotiva veloz, cujo sibylo agudo echoará na mata do Brazil prosperidade e civilizaçâo, e marcará sem dúvida uma nova éra no paiz. Seja-me permittido, Imperial Senhor, exprimir nesta occasião solemne um dos mais ardentes anhelos do meu coração: esta estrada de ferro, que se abre hoje ao transito público, é apenas o primeiro passo na realização de um pensamento grandioso..."

*Disse o Barão de Mauá quando da inauguração da primeira ferrovia do Brasil, em 30 de abril de 1854.
O Dia do Ferroviário que hoje comemoramos, tem motivos de sobra para nos orgulharmos do passado e ousarmos no presente.
Abandonadas num passado recente, as estradas de ferro subsistiram através da obstinação, do esforço e da dedicação dos ferroviários apaixonados pela ferrovia.
Há 157 anos que o Ferroviário é antes de tudo um Forte.


Publicado  pela Associação de Engenheiros Ferroviários
Elysio Lugarinho Netto
 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Causos ferroviários – Histórias ou Estórias do Trem, você escolhe:


Senhor Paciência

          O apelido já dizia tudo: senhor Paciência. Homem calmo e de grande responsabilidade, foi promovido a chefe na Estação Mantiqueira. Um dia, diga-se de passagem, dia “daqueles”, pois o frio era cortante fazendo doer até os ossos, senhor Paciência chega para trabalhar. E qual não foi sua surpresa ao deparar com um andarilho em um dos bancos da estação: senhor Paciência chegou de mansinho e tocou o braço do homem, chamando-o. Ele não se moveu. Novamente, senhor Paciência balança bem devagar, na esperança de acordá-lo e nada. O andarilho continuava inerte e nada nele se movia.
           Assustado, senhor Paciência sai de mansinho, pé ante pé, vai direto para o seletivo e manda a seguinte mensagem: “Por favor, mande socorro urgente para a Estação Mantiqueira, pois, aqui, se encontra um andarilho deitado em um dos bancos com sintomas de morto”.
Causo enviado pelo ferroviário José Gerçossimo Filho – Carandaí (MG).

O trem e o bolo

          Por volta de 1957, em Bananal, cidade vizinha de Barra Mansa, dependíamos muito de Barra Mansa para comprar o que não achávamos em Bananal. Como não havia ônibus, íamos de trem. Meu irmão Auro ia casar em 1957 e a tia da minha cunhada ia fazer o bolo. Ela morava em Barra Mansa. Para trazer o bolo, a única maneira era ser levado de Maria Fumaça. O bolo era grande, tinha três andares, e foi colocado em um vagão. O irmão da noiva ia buscá-lo com uns amigos. O mais engraçado é que o irmão da noiva pagou uma passagem para ele e outra separada para o bolo. Durante a viagem, o medo do bolo cair ou trincar era apavorante. Ele pediu ao maquinista que fosse um pouco devagar. A estrada era cheia de curvas e os amigos dele riam a viagem inteira, imaginando o bolo virar. Ao chegarem na estação, todos aplaudiram o maquinista. O bolo ficou lindo na mesa. A festa de casamento foi linda!
Causo enviado por Zélia Guimarães Eklund – esposa de ferroviário. Cachoeira Paulista (SP)


O engenheiro carregador

          Este fato que vou narrar aconteceu na cidade de Itaúna (MG), nos bons tempos da saudosa Rede Mineira de Viação. Existia, na cidade, um engenheiro que era chefe da residência que cuidava da via permanente. Ele morava perto da estação e quando estava de folga, lá estava ele na plataforma da estação para ver os trens que chegavam e saiam. Certo dia, estava ele lá, quando chegou o noturno, que ia de BH para Uberaba. Desembarcou um cidadão com duas malas pesadas. Olhou para um lado, olhou para o outro e viu o engenheiro parado. Então chamou: “o carregador leva as malas para mim?” Era natural, naquela época, ficarem os carregadores nas estações para prestar serviços. Sem pensar duas vezes, ele pegou as malas e levou para o hotel. Quando ele passou, o agente da estação e o guarda-chaves ficaram assustados, mas não falaram nada que ele era engenheiro. Passaram uns instantes e estava o engenheiro de volta, que disse: “ganhei um dinheirinho”. Este engenheiro era um homem muito honrado, respeitado e humilde. Seus subordinados tinham prazer de trabalhar com ele.
Causo enviado por Sebastião Flavino de Paula – Divinópolis (MG).

Janela do espetáculo

          Nos idos da década de 1950, onde havia o trem diretão, que percorria o trecho de Porto Alegre a São Paulo, cuja tração era a vapor, o trem fazia paradas em algumas cidades, a fim de abastecer e trocar a equipe. Na parada de Porto União da Vitória, aconteceu o seguinte: na estação, alguns garotos que ficavam observando os carros, ao passarem pelo carro dormitório, viram, no interior da cabine, uma bela garota deitada somente com a lingerie inferior (estava muito quente), que, logo após o almoço, adormecera. O menino que viu ficou extasiado e chamou os demais para verem juntos aquela “janela do espetáculo”. A euforia foi grande e um deles, sem querer, bateu na vidraça. A jovem, rapidamente, puxou a cortina. Ano após ano, os garotos procuravam o repeteco em outro trem, mas nunca mais houve oportunidade igual.
Causo enviado por José Francisco Pavelec – Ponta Grossa (PR)

O porquinho passageiro

          No escritório sede da ex-estrada de Ferro Leopoldina Barão de Mauá havia um trabalhador que servia como vigia, de nome Francisco Anízio (semianalfabeto). Sua terra natal era Cambuci, interior do estado do Rio de Janeiro. Pois bem, o mesmo entrou em férias e solicitou passe (que era de direito) ida e volta a fim de aproveitar as férias e visitar os parentes na sua terra. Terminando o período das férias, no seu regresso para a cidade do Rio de Janeiro, Anízio já havia comprado um porquinho novo. Mandou, então, fazer um engradado que coubesse o animal, comprou uma passagem na 2ª classe e embarcou trazendo o porquinho ao seu lado como se fosse um passageiro, muito bem embalado, para ninguém desconfiar. Mas, por falta de sorte, em Campos entrou um fiscal que, ao conferir o trem, estranhou aquele embrulho e descobriu que se tratava de um porquinho.
           Aí começou a encrenca: o fiscal prendeu o embrulho e disse a Chico Anísio que o porco não podia ir daquela maneira e teria que ser despachado e levado para o carro de bagageiro, e, ainda, teria que pagar uma multa. Chico virou “o bicho” e muito irritado disse que o porco tinha que ir junto, exibindo a passagem que pagou para o animal. A coisa ficou preta: vai-não-vai, fica-não-fica; houve até ameaça de agressão: eu quero ver quem tira o porco daqui! A sorte é que o trem já estava chegando ao seu destino em Barão de Mauá e, por coincidência, o Chefe da Estação de Zeladoria, Sebastião Valente, estava na estação e acalmou os ânimos, mandando fazer o despacho do porquinho, além de dispensar a multa que o fiscal insistia em cobrar pelo abuso de um porco como passageiro.
Causo enviado por Sebastião Valente de Andrade – Rio de Janeiro (RJ)

A mão pelada

          Quando meu pai trabalhava em Mário Belo (entre Japeri e Engenheiro Gurgel), indo trabalhar de trem, já tinha passado em Palmeira da Serra, quando meu pai teve uma grande dor de barriga e pediu ao maquinista para parar. O trem seguiu seu caminho. Estava ele tranquilo, no meio das bananeiras, quando ouviu um barulho diferente. Foi quando, de repente, ele avistou uma enorme mão pelada, que é parente distante da onça, um animal muito feroz. Meu pai conta que não deu tempo para vestir as calças. A sorte é que perto tinha uma árvore. Foi o que o salvou. Ele subiu pelado e a mão pelada, embaixo da árvore, esperava-o descer. Três horas se passaram. Foi quando a mão pelada desistiu. Ele desceu, se vestiu, fez uma fogueira para esquentar a marmita e foi embora esperar o trem para casa.
Causo enviado por Neuza Meirelles, filha do ferroviário José Adriano Meirelles - Barra do Piraí (RJ)
O caixeiro-viajante e o parlamentar

          Esse fato aconteceu em União dos Palmares (Alagoas), terra de Zumbi dos Palmares, Jorge de Lima e da Serra Barriga. União é famosa também por sua feira livre, lugar comum no Nordeste. Só que em União a feira é em quatro dias da semana e ocupa vários quarteirões, vende de tudo e tudo acontece. Era época de eleição e vários candidatos aproveitavam a oportunidade para fazer sua campanha. Entre eles havia um que se destacava, estava buscando seu segundo mandato como deputado federal, era uma figura imponente no sertão e agreste alagoano. Seu nome: doutor Alberico, bigodudo, sempre falando alto, e dando ênfase a letra r, tipo cerrrrto, corrreto. O doutor parou em frente a estação ferroviária de União e começou a discursar. O povo foi se chegando e o deputado, empolgado, prometia o mundo e o fundo: eu faço e aconteço.
           Quando ele acabou, seu Alcidézio, feirante, figura popular em União, dirigiu-se até a ele e travou o seguinte dialogo: “Deputado, deputado, pois não, deputado, o trem é o melhor meio de transporte que a gente tem. É uma viagem boa até Maceió. É mais barata. E aí, deputado, a estação está fechada, o trem parou de circular e ninguém faz nada”. O deputado ficou sem ação, não esperava. No interior do Nordeste eles costumam oferecer dinheiro para fazer a feira, não é comum ser cobrado em público. Doutor Alberico chamou um vassalo e disse: “anote aí, eu prometo que trago de volta a circulação do trem, de União até Maceió”.
           Seu Alcidezio ouviu e se retirou desconfiado e ficou aguardando o tão esperado retorno da linha. Doutor alberico foi eleito, passou o primeiro o segundo, o terceiro ano e aí terminou o mandato, e nada do trem voltar. E o deputado, novamente, tenta a reeleição, e volta a União para pedir votos. Seu horrara, outro feirante, chamou seu Alcidézio e disse: “Cidézio, o doutor Alberico tá lá na estação”. Seu Alcidézio pegou uma mala velha, surrupiada, cheia de buginganga, se dirigiu até o deputado e lhe disse: “Deputado, até hoje estou esperando o trem que o senhor prometeu, o guarda-mala até morreu e deixou essa mala velha comigo”. O deputado não esperava tamanha descompostura, disse-lhe: “A culpa não é minha, a culpa é do Ferrrrrnando Henrrrique”. O deputado foi embora sem graça, o trem não voltou a circular e para o bem de todos ele não foi reeleito.
Causo enviado por José Alexandrino de Araújo Junior – Rio de Janeiro (RJ)

http://www.refer.com.br

Histórias e "CAUSOS" Ferroviários: Trem passageiro

Presentes na memória de viajantes, as composições ferroviárias levaram progresso, cultura e muitos “causos” por onde passaram
Por: Vivi Fernandes de Lima

Todo dia era assim: por onde o trem passava, saindo ou chegando a Curitiba, moradores, principalmente crianças, acenavam de portões e janelas. Alguns se aventuravam correndo, acompanhando os passageiros. Morando próximo da linha, Odair Antônio Brustolin, ainda criança nos anos 1960, também dava as boas-vindas ao trem. Mas quando a locomotiva estacionava, ele cumpria uma função de que ainda se orgulha: levava o almoço para o pai, o maquinista. O orgulho era tanto que hoje, aos 49 anos, Brustolin tem a mesma profissão do pai. “Desde os seis anos, eu já sabia que seria maquinista. Não tinha a menor dúvida”, garante.


Tanta certeza não veio só da tradição familiar. Brustolin, que atualmente conduz o trem turístico que liga Curitiba a Paranaguá, encanta-se com tudo que está ligado à viagem. “A cada dia vejo uma paisagem diferente, uma flor, um passarinho. Fico feliz de agradar aos turistas e passar por onde também passa a riqueza do país”, diz ele, referindo-se aos trens de carga que transportam principalmente grãos para o Porto de Paranaguá.


A ferrovia é um prato cheio para se admirar a paisagem da Serra do Mar. Mas o cenário não é a única coisa que encanta. Trabalhadores, passageiros e moradores de cidades por onde passam as composições guardam histórias que representam a chamada “cultura do trem”. Brustolin, que trabalha no ramo há 35 anos coleciona “causos”. “Uma vez, o trem estava carregado de frangos e teve que parar por um tempo na linha. Era noite, no meio da Mata Atlântica. Apareceu uma onça e ficou rondando os vagões. O segurança teve que subir no contêiner e ficar jogando pedras até ela ir embora”, conta o maquinista, no melhor estilo “história de pescador”.

O cantor e compositor Ivan Lins guarda na memória viagens de trem que fazia na infância. Do Rio de Janeiro, ele ia com a família para Muriqui, praia da Costa Verde do estado. “Eu gostava da vista, do balanço do trem, que me embalava”. Já nos anos 1960, a rotina era outra: ele circulava nas estradas de ferro de Minas Gerais – onde “trem” é sinônimo de “coisa”, ou seja, quase tudo – para participar de festivais universitários. Na década de 1970, com agenda profissional entre Rio e São Paulo, embarcava frequentemente no glamoroso trem noturno que ligava as duas metrópoles, da estação D. Pedro II (mais conhecida como Central do Brasil, no Rio) à Estação Barra Funda, na terra da garoa. “Sempre achei melhor viajar de trem do que de avião”, lembra o artista, que é Ferroviarista Emérito do Movimento de Preservação Ferroviária. 

Batizado de Santa Cruz – e mais tarde popularizado como Trem de Prata –, essa composição estava no dia a dia de muitos outros artistas. Principalmente dos que tinham medo de avião. A cantora Aracy de Almeida (1914-1988) chegou a ser apelidada por amigos de “Dama da Central”. O poeta e compositor Vinicius de Moraes era outro que temia voar. Foi numa cabine do Santa Cruz que compôs com Baden Powell a canção “Formosa”. As viagens noturnas e as conversas no vagão-bar renderam até um romance. Instalado numa cabine em frente à de Cristina Gurjão – com quem veio a ter a filha caçula –, Vinicius viveu mais um episódio instigante para incluir em sua biografia. “Cristina volta para sua cabine (...) Abre novamente a porta e vê, então, a porta da cabine de Vinicius entreaberta. (...) Os dois amanhecem juntos. A noite é inesquecível”, narra José Castello em Vinicius de Moraes, o poeta da paixão.

O trem, que pode ter sido um bom alcoviteiro, como no caso do poeta, também já foi associado ao calendário religioso para outros. Em Parnaíba, município litorâneo do Piauí, a composição chegava à cidade em horários extras noturnos a fim de levar a população para a novena em homenagem ao padroeiro. Era também o meio de se chegar à praia. Na década de 1940, o escritor e dramaturgo piauiense Benjamin Santos se divertia nos 13 quilômetros entre Parnaíba a Amarração. “Até as coisas ruins eram boas na viagem de trem. Eu me lembro que volta e meia entravam marimbondos nos vagões. Era uma gritaria... E às vezes as faíscas do trem queimavam as roupas dos passageiros. Para nós, crianças, tudo isso era um grande divertimento”, lembra o escritor.

As recordações das ferrovias são tantas que em 2002, quando exercia o cargo de secretário de Cultura da cidade, Benjamim criou o Museu do Trem do Piauí, instalado na Estação de Parnaíba, fechado em novembro do ano passado pelo atual prefeito da cidade, José Hamilton Castelo Branco. Assim, 156 peças – sinos, taquígrafos, faróis, entre outros objetos – foram parar nos fundos de um centro de artesanato. “O trem tem uma importância muito grande na cidade, não só no aspecto social, mas também no cultural e afetivo”, lamenta o escritor. Luiz Gonzaga chegou a demonstrar o afeto à mesma linha férrea. No forró “De Teresina a São Luiz” (de Helena Gonzaga e João do Vale), o rei do baião cantava: “Peguei o trem em Teresina/ pra São Luiz do Maranhão/Atravessei o Parnaíba/ Ai, ai, que dor no coração”.

Afeto para uns, progresso para outros. Muitas cidades prosperaram com as estradas de ferro. Uma delas foi Cedro, no Ceará. O historiador Gisafran Nazareno Mota Jucá, professor da Universidade Estadual do Ceará, chegou a mencioná-la num estudo sobre a ferrovia no cotidiano da vida interiorana. “A instalação das oficinas de manutenção e reparo de máquinas e vagões atraiu um número considerável de funcionários e pessoas envolvidas com o transporte ferroviário”, relatou Jucá em artigo publicado em 2003 na revista O público e o privado.

Já em Xerém, no Rio de Janeiro, a associação do trem com o progresso não era uma unanimidade. Isso porque, às vezes, a composição manobrava no povoado anterior, fazendo com que chegasse de marcha a ré à cidade. Por esse motivo, reza a lenda que enquanto o trem chegasse de costas, Xerém não iria pra frente.

As estradas de ferro começaram a andar pra trás na década de 1960, quando as rodovias ganharam o país. A imagem de progresso, que era relacionada aos trilhos, passou a ser associada ao asfalto. “Esse processo começou ainda no governo de Jânio Quadros [janeiro a agosto de 1961], com uma política de erradicação dos ramais deficitários. Essa iniciativa foi intensificada no regime militar”, diz o também historiador Paulo Roberto Cimó Queiroz, da Universidade Federal de Grande Dourados, no Mato Grosso do Sul. Ele se dedicou à história da Ferrovia Noroeste, que ligava Bauru (SP) a Corumbá (MS). Mas será que a população assistiu pacificamente a essa substituição dos trilhos pelo asfalto? Aparentemente, sim. “É bom lembrar que, num período de regime militar, as pessoas não tinham muito espaço para reclamar”, adverte Queiroz.

Mas para Jucá, o começo da saída de cena das ferrovias foi outro: “O passo inicial fora dado no governo Juscelino Kubitschek [1956-1961], ao priorizar a abertura de rodovias como uma exigência lógica da expansão do setor industrial, em que o capital estrangeiro se destacava na indústria automobilística”, escreveu.

As reflexões dos pesquisadores – mesmo sob pontos de vista diferentes – chamam a atenção para o quanto as estradas de ferro perderam espaço em pouco tempo. Introduzido em 1854 por Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), o barão de Mauá, o transporte ferroviário chegou a ter 37 mil quilômetros na década de 1950. Hoje, cerca de sete mil quilômetros estão desativados. “O que não podemos esquecer é que o trem não tinha concorrentes até a popularização do automóvel, ou seja, teve quase um século de monopólio. E um século é bastante tempo para um monopólio”, diz Queiroz.

A substituição do trem pelo automóvel não foi um fato exclusivo do Brasil. Os Estados Unidos perderam o equivalente a quase toda a malha brasileira dos anos 1950 a 1970. Eles chegaram a ter mais de 200 mil quilômetros. “O automóvel e o caminhão traziam muitas vantagens na época: eram mais ágeis e podiam andar em qualquer rua. Eu mesmo troquei o trem por ônibus no final dos anos 1960. Como morava em Dourados, para pegar o trem tinha que ir até Campo Grande. Mas aí passou a ter ônibus direto de Dourados para São Paulo. Era menos divertido, mas bem mais rápido”, diz Queiroz.

Luiz Gonzaga chegou a fazer uma leve crítica ao tempo de viagem: “O trem danou-se naquelas brenhas/(...)Comendo lenha e soltando brasa/ Tanto queima como atrasa”. Talvez tenha sido no quesito agilidade que as ferrovias perderam mais passageiros. Ou será que o trem, como todo invento tecnológico, já nasceu para ser passageiro?

Saiba Mais - Bibliografia

BUZELIN, José Emílio de Castro H. Carros Budd no Brasil – 1: os trens que marcaram época. Rio de Janeiro: Memória do Trem, 2002.

QUEIROZ, Paulo R. Cimó . Uma ferrovia entre dois mundos: a E. F. Noroeste do Brasil na 1ª metade do século XX. Bauru: Edusc, 2004.

VASQUEZ, Pedro Karp. Nos trilhos do progresso: a ferrovia no Brasil imperial vista pela fotografia. São Paulo: Metalivros, 2007.

Saiba Mais - Internet

JUCÁ, Gisafran N. M. “O significado da ferrovia no cotidiano da vida interiorana”, in O público e o privado, nº 2, julho/dezembro de 2003.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Histórias ferroviárias do Paraná. ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE JAGUARIAÍVA


HISTÓRICO

A estação ferroviária da cidade de Jaguariaíva se constitui num belo exemplar arquitetônico. Construída em alvenaria no padrão de uma estação de médio porte possui estrutura de uma estação de primeira classe. A atual estação teve sua inauguração no ano de 1935.
Assim como ocorreu em outras cidades brasileiras, a instalação da estação passa a constituir ponto de referência para a comunidade. Por isso, atualmente a cidade esta dividida geograficamente em duas partes: Cidade Alta, originária da antiga fazenda da família Lobo e Cidade Baixa, que é formada após a implantação dos trilhos da ferrovia São Paulo – Rio Grande e de sua respectiva estação.
A cidade favorecida por este meio de transporte assumia uma postura de progresso, já que a invenção mais fascinante do século estava lá; atraindo pessoas, negócios e melhorias urbanas. Um grande impulso se dava para a economia do município. De acordo com Lando Kroetz(1)“Os estímulos advindos da implantação das ferrovias no Paraná, favoreceram o fluxo de pessoas ou produtos, intensificando a produção agrícola, comercial e industrial. (...) O trem, fator de crescimento fundamentado na perspectiva de lucros comandou, junto com outros fatores, o emprego da terra. Colonização, frente de trabalho, utilização da terra e das riquezas extrativas formaram um esquema inter-relacionado. (KROETZ. 1985: 239-240).
Nesta perspectiva sobre a ferrovia, foram atraídos investimentos em Jaguariaíva, por exemplo, as Indústrias Matarazzo que lá se instalaram em 1920.
Incrementaram a economia local instalando um parque fabril com um grande frigorífico. As indústrias, localizadas atrás da estação, direcionaram o centro comercial do município para esta localidade, compondo o espaço com hotéis, restaurantes, agências bancárias e até uma nova igreja, construída sob patrocínio do Conde Matarazzo, para atender a população que se formava nesta parte da cidade. Neste período a linha ferroviária de Jaguariaíva se constituía num importante entroncamento de ferrovias ligando o Estado do Paraná com outras regiões do Brasil.

(1) - RFFSA. Monografia das Unidades de Operação. 1965: 7-9.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Trem Pé vermelho está com um pé nos trilhos!

Estudo põe trem Pé Vermelho nos trilhos.

 


A história do Trem Pé vermelho (Londrina-Maringá) começa em 2000, quando o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), avaliou 64 rotas ferroviárias abandonadas em todo o País. Na avaliação dos técnicos, poderiam ser reativadas dentro do novo contexto econômico. Depois, em uma segunda “peneira”, 13 destinos foram destacados. Finalmente, na lupa, as atenções se voltaram para as interligações Bento Gonçalves-Caxias do Sul (RS), com apenas 65 quilômetros de percurso, e Londrina-Maringá, com 152,2 quilômetros, consideradas as mais viáveis do ponto de vista econômico e de movimentação das populações. A partir de então, o Labtrans coordenou os primeiros estudos com a parceria da UEL e UEM e colocou 250 universitários dentro de ônibus de linha, rodoviárias, estradas e postos da polícia rodoviária local, onde puderam questionar e saber os desejos do provável público do trem pé vermelho.

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Se depender dos estudos realizados junto a população, sai com certeza. Mais de 60% dos usuários de ônibus que transitam diariamente entre Londrina e Maringá, e 43% dos viajantes de carro, aceitariam trocar o transporte atual pelos trilhos do trem, apelidado carinhosamente de "Trem Pé Vermelho", previsto para estar ativado em 2014, antes da Copa do Mundo. Fernando Camargo, diretor da URBAMAR de Maringá, diz que Maringá já está totalmente pronta para receber o trem de passageiros, pois toda a linha que passa por dentro da cidade já está rebaixada, ou em trabalho de rebaixamento, eliminando qualquer interferência no trânsito de Maringá. A novela da vinda do trem pé vermelho, se arrasta desde o ano 2000, quando um estudo da Universidade do Rio de Janeiro estudou 64 linhas, e destacou 02 linhas altamente viáveis(Maringá-Londrina / Bento Gonçalves-Caxias do Sul). De lá pra cá diversos estudos foram feitos, e agora parece que o projeto vai andar, pressionado pela proximidade da Copa do Mundo, que necessitará de transportes de massa mais eficazes que a atual. Só nos resta torcer, pela vinda do trem e pelo Brasil na copa de 2014.

Por: Marcelo Frazão 

Nos trilhos da antiga ferrovia: ESTRADA DE FERRO SANTA CATARINA

Nos trilhos da antiga ferrovia (EFSC) 

A construção da Estrada de Ferro de Santa Catarina (EFSC) iniciou no começo do século passado, chegando a Gaspar em 1954. O marco histórico – e frustrado – deixou vestígios que podem ser observados ainda hoje nos locais por onde passou. Em Gaspar, a estação do bairro Figueira é um dos mais visíveis sinais da passagem da velha ferrovia, que tinha o audacioso plano de cruzar o estado e chegar à Argentina e Uruguai. A obra foi bancada pelo capital alemão. 
O primeiro trecho da ferrovia foi construído em meados de 1907 e ligava Blumenau a Ascurra. A intenção era que a estrada se unisse com a da linha Itararé-Uruguai, que estava em construção próximo à localidade de Limeira, onde hoje fica a cidade de Herval do Oeste. No mesmo ano, as primeiras locomotivas chegaram a Blumenau.
No final de 1933 foram inaugurados seis quilômetros de estrada de ferro até a estação de Rio do Sul e, após 20 anos de estudos, os trilhos da Estrada de Ferro de SC chegaram ao litoral. A inauguração do primeiro trecho, que cruzava a cidade de Gaspar, ocorreu no dia 18 de dezembro de 1954. Quatro anos depois da inauguração, no outro extremo da linha, a ferrovia estendeu-se até Trombudo central. Em 1964 chegou ao município de Agrolândia. 
O fim da década de 1960 anunciou a influência da tecnologia norte-americana na cultura brasileira, que trazia o crescimento de diversas formas. Uma das mais visíveis foi a opção pela construção de rodovias e o crescimento da frota de carros e caminhões que chegavam ao País. Na época, o transporte rodoviário era mais prático e barato, graças ao baixo preço do petróleo. O transporte ferroviário passou a ser considerado obsoleto. Em 1971, o trem fez a sua última viagem entre Gaspar e Blumenau.



Por: Leandro Rodrigo de Oliveira

Histórias ferroviárias do Rio Grande do Sul: Histórica Viação Férrea.

Histórica Viação Férrea, que ainda vive pulsante na memória de muita gente... e que se perpetua através dos tempos...
Histórica Viação Férrea, que do alto de tua glória, contemplaste a esperança nos olhos de quem levavas... e que de onde de te encontras hoje, contemplas somente a nostalgia...
Histórica Viação Férrea, outrora majestosa, sinônimo de modernidade, era acolhida com alegria por onde chegava... e que hoje sente-se só...
Histórica Viação Férrea, cujas composições serpenteavam por entre os pampas, maravilha de suor e aço que nos trouxe o progresso... jaz esquecida em meio ao matagal que te toma...
Histórica Viação Férrea, que presenciaste o deslinde da História, que viste o desenrolar dos tempos e das vidas de tanta gente... encontra-te hoje inerte em tua própria existência...
Histórica Viação Férrea, que se fazia ouvir através de tuas imponentes locomotivas, cujos apitos quase falavam “estou chegando, estou chegando”... somente os ecos permanecem no passado...
Histórica Viação Férrea, as estações que te foram erigidas permanecem como um vago lembrete da tua grandiosidade, velhas senhoras que hoje apenas te contemplam, sem nada poderem fazer...
Histórica Viação Férrea, envergonho-me diante de ti, pois a construímos como a promessa dos tempos... e a deixamos de lado, como um velho brinquedo sem graça...
Histórica Viação Férrea, nada pude fazer para conter as atrocidades cometidas contra teu patrimônio, e o descaso com o qual teu legado foi tratado...
Histórica Viação Férrea, que não conseguiste proteger-se dos carrascos, que assististe o desmanche de várias de tuas máquinas... foste tomada de silencioso pesar...Peço-te perdão...
Histórica Viação Férrea, e digo-te que nem tudo está perdido, que a esperança voltará a sorrir pra ti, assim como as crianças te sorriam em teus áureos tempos...Voltaste à memória das pessoas...
Histórica Viação Férrea, e podes vislumbrar o carinho com que merecidamente voltas a ser tratada. As pessoas estão sentindo sua falta, e muitas já empunham a bandeira da tua causa, como que num esforço pra compensar os danos que te causaram no passado...Lutarei por ti... 
Histórica Viação Férrea... e concerteza muitos o farão também, assim como muitos já o fazem... e ainda voltarás a ter a importância de outrora, que jamais deveria ter-lhe sido tirada.

Texto, em homenagem aos ferroviários e ex-ferroviários do Estado, que desde os primeiros passos da ferrovia no Rio Grande do Sul, deram seu suor e seu sangue pelo progresso levado nos trilhos que eram construídos... E que hoje, presenciam a decadência na qual se encontra nossa estrada de ferro.

Por:
Daiane Kowaleski Miranda
Primeira Mulher Maquinista de Locomotivas a vapor do Brasil.
Daiane Fumaça - ABPF – Associação Brasileira de Preservação Ferroviária.


http://abpf-rs.blogspot.com







segunda-feira, 25 de abril de 2011

A Estação “União”. Municípios de União da Vitória-PR e Porto União-SC

A Estação “União”.

Municípios de União da Vitória- PR e Porto União- SC
Até o início da década de 1940, havia a inexplicável existência de duas estações ferroviárias distantes uma da outra poucos metros, servindo distintamente a estas cidades. Trens chegavam e partiam transportando passageiros e cargas das duas estações. Uma inconveniência: parar duas vezes na mesma comunidade... . As pessoas desciam em União da Vitória e hospedavam-se em Porto União, as cargas descarregadas em Porto União eram entregues em União da Vitória... (2). Através dos anos ficou evidenciada, tanto pelo governo federal quanto pelo estadual, a importância desse entroncamento ferroviário e, em 15 de agosto de 1942, é inaugurado um conjunto de obras incluindo aí a estação de passageiros.Racionalizando espaço e tempo e respeitando a tradição de duas cidades juntas colonizadas, a Rede julgou por bem substituir as duas estações por dois corpos, iguais em área coberta e fisionomia arquitetônica, ligados de modo a formar uma grande abóbada em arco e por meio de uma galeria subterrânea reservada ao trânsito de pedestres(3)
Para que não houvesse nenhum tipo de rancor por parte das duas cidades, a estação foi denominada de “União”, a fim de manter os laços de amizade entre as cidades. O evento contou com a presença de grande número de autoridades, como o Interventor Federal, no Paraná, Manoel Ribas, e da comunidade em geral. Conforme a descrição precisa da pesquisadora Professora Terezinha Leony Wolff, na estação funcionou, do lado de Porto União, a Agência Postal Telegráfica a qual ocupava a parte térrea e superior ao lado sul da Estação. Uma escada interna estabelecia a ligação da Agência Postal com a sala do Telégrafo. No lado norte, dependências térreas funcionavam o restaurante da Estação, dirigido pelo Senhor Salustiano Costa e servido pelo senhor França. O andar superior servia aos escritórios do 3º Distrito de Obras e Cadastro. Do lado de União da Vitória, na ala norte, ficavam os serviços de transmissão da Rede (telégrafo morse, telefone seletivo e rádio, PSF4). Na parte de baixo, a Agência da Estação. No lado sul, andar superior, o Departamento de Pessoal e no térreo, o Setor Comercial da Rede. Algo que marcou na memória foi o movimento de pessoas nas bilheterias, nos saguões e nas plataformas. Passageiros recostados nos bancos, cochilando, enquanto aguardavam os trens, nem sempre no horário previsto. Em ambos os lados da Estação, conjugados, quatro armazéns para carga e descarga de mercadorias. Alguns carregamentos, como de trigo e madeira, efetuavam-se nos depósitos das próprias firmas e o de animais, no Embarcadouro, em vagões para cujos acessos foram construídos ramais ferroviários específicos. Na inauguração da Estação de União foram incluídos também as três casas residenciais destinadas aos engenheiros da Via - Permanente e Locomoção e ao Agente da Estação (na Visconde de Nácar); a balança de Vagões, as Oficinas da 5ª Residência e Depósito, o Escritório da Locomoção e o Depósito das máquinas (hoje depósitos de Grãos), a Cabide Telefônica ( onde ficava o guarda chaves), todos construídos ao longo da linha, paralelos à Avenida ( hoje Getúlio Vargas); a Vila Ferroviária, formada por sete grupos de casas quadruplas ( nas Estrada de Rodagem para o Rio da Areia, hoje Mal. Deodoro. Para abastecer de água o pátio e outros serviços da Estação foi construída uma caixa de concreto, no alto ( onde posteriormente foi construído o Estádio do Ferroviário”... (4).

Por: Professora Terezinha Leony Wolff


sábado, 23 de abril de 2011

Aproveitando que o Cordel está na moda segue um sobre: Ferrovias já.

Viaduto entre Laranjeiras do Sul e Nova Laranjeiras - Paraná - km 128+144 da
 FERROESTE - extensão do viaduto 388,50 metros.
Foto: Clodoaldo

Ferrovias, já!


1
Amigos quero falar
De um fato interessante
Lá no século passado
Ocorreu algo importante
A era da nossa borracha,
Em um impasse se acha
Que parece relevante
2
Um acordo especial:
Nos devolveria o Acre
O Tratado de Petrópolis
Colocou ali seu lacre
Com a definitiva posse
Nada mais há que acosse.
É brasileiro o Acre.
3
Um estado tão distante
E a expansão da borracha
Pedia a interferência
Uma política atuante
Para as comunicações 
E também as produções
Escoamento integrante
4
Até hoje não entendo
Por que tanto investimento
Em rodovias tão caras
Falta ideia e pensamento
Com danos ao ambiente
Nosso clima hoje é quente
Por faltar discernimento
5
Não podemos esquecer
Da Madeira Mamoré
Projeto de ousadia
Começou andar de ré
Pelos transtornos criados
Muitos foram dizimados
Perdendo a própria fé
6
Uma doença implacável
Impediu a construção
Daquela qu’ inda seria
A grandeza da nação
Ligando norte e nordeste
Indo pro sul e pro leste
Escoando a produção
7
Nunca haverá igualdade
Só com estrada e asfalto
Encarecem os produtos
Os preços, são um assalto
O transporte é mais caro
Estes preços, não encaro
Vivemos em sobressalto
8
As florestas arrasadas
Prejudicam nosso clima
As pastagens predominam
Tudo à volta desanima
É preciso esperança
A ciência sempre avança
Sei que tudo ela examina
9
Nosso país necessita
De norte a sul nos ligar
Num país continental
Ferrovias espalhar
Indo em busca de igualdade
Somos uma irmandade
Pr’ este país se aprumar