Um ou Outro
Em um dos hortos florestais da Estrada de Ferro
havia, entre outros animais de tração, um burro que prestava
valiosos serviços.
Embora já meio idoso, o animal era rijo, forte, mas
dócil. Nunca empacara, podia-se contar sempre com ele.
Certo dia, porém, o burro não se levantou. Estava doente.
O processo foi rápido. No dia seguinte, o animal
faleceu.
Como seu concurso era essencial para as atividades
do Horto, o Encarregado que respondia pelos serviços (o
Horto estava temporariamente sem Engenheiro para chefiá-
lo) passou o seguinte telegrama para o seu Departamento,
na sede da Estrada:
“Um burro ficou doente e morreu. Pergunto se devo
comprar outro ou esperar a chegada do Engenheiro novo”.
Despacho Faminto
Esta aconteceu na época em que eram comuns os
despachos de animais e pequenos volumes de uma para
outra estação no interior.
Alguém havia despachado um bode, o qual, por
inadvertência ou descaso do Auxiliar de Estação, ficou mal
amarrado dentro do vagão, destinado à bagagem.
Em meio à viagem, o bode conseguiu soltar-se e
andou tranqüilo pelo vagão.
Entre as encomendas que lhe faziam companhia,
estava um balaio de verduras.
Ao sentir o cheiro do alimento, o bode não fez
cerimônia. Tanto fuçou o balaio que este caiu, rolou pelo
vagão e se abriu, deixando couves e alfaces à disposição do
seu apetite.
Chegando o trem à estação à qual se destinavam
ambas as encomendas, o bode e o balaio de verduras,
o Agente da Estação constatou, surpreso, a ocorrência.
Apenas pequenos pedaços de couves e alfaces restavam no
balaio vazio.
O Agente, então, não vacilou. Manipulando o
telégrafo, comunicou à sua chefia:
“Informo-vos que, ao descarregar a bagagem
do trem prefixo..., às... horas de hoje, constatei que a
encomenda n°... comeu a encomenda n°...”.
Deu Bode
As pequeninas estações do interior possuíam, frequentemente, o seu bode de estimação. Era comum, ao se
passar por elas, ver-se o animal pastando, tranquilo e pensativo, a vegetação rasteira e teimosa que brotava entre trilhos
e dormentes ou o capim mais viçoso, à margem da linha.
O bode era aceito como parte integrante daquele
mundo. De um modo geral, não incomodava e nem era
incomodado.
Pelo menos uma vez, porém, um desses bodes fez
das suas, perturbando o mundo pachorrento da estação que
constituía seu domínio.
08 de junho de 1981. Em correspondência formal
dirigida à chefia, o responsável por um escritório da
Via Permanente narrou as estripulias do bode e suas
consequências.
Eis a transcrição textual da indigitada ocorrência:
“Esclarecemos que o mau estado dos formulários
CM.5 números 076 e 077 se deve à entrada de um
bode, na agência de Santo Amaro. Quando o Agente
da Estação se encontrava atendendo à passagem de
um trem, o referido animal iniciou a pastagem dos
documentos. Quando foi surpreendido, já causara o
estrago que se vê. Cordiais saudações.”
Não há elementos para se esclarecer as razões da
conduta do bode. Entretanto, alguns ferroviários que
conhecem a estória, verídica, atribuem ao bode intenções
desburocratizantes...
Por: Victor José Ferreira do Livro: ESTÓRIAS DO TREM - Uma viagem no folclore ferroviário.
http://www.trembrasil.org.br
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