Acima: a inauguração dos serviços expressos do trem Cometa entre São Paulo (Luz) e Santos, nos anos 1920.
Quando ouvimos falar hoje de TAV, pensamos que a velocidade nos trens é coisa nova. Mas não é. Quando em 1870 uma locomotiva a vapor chegou aos 103 km/h, e dez anos depois aos 150 km/h, ficou provado que a velocidade nos trens era vantajosa, ao contrário de antes, quando andavam lentos, em parte pela pressão popular, em parte pelo desenvolvimento tecnológico da época.
E a tração a diesel? Na virada do século XIX para o XX, era utopia pensar em locomotivas diesel. Os primeiros automóveis eram caros, e o dirigivel era algo incrível demais, afinal um balão com motor a gasolina era algo temerário. Seu uso era subestimado pelo vapor. Mesmo assim, muitos insistiram no seu uso (Santos Dumont foi um desses, e conseguiu voar). Nas ferrovias, surgiam as primeiras locomotivas a vapor movidas em parte por carvão ou lenha, parte por diesel.
Na década de 1920, ainda patinava o uso de locomotivas a diesel no mundo, quando a empresa Armstrong da Inglaterra começou a produzir o primeiro trem articulado a diesel. Era algo revolucionário na época, trens movidos a diesel, com truques articulados e com cinco carros, além que o peso era três vezes menor que um trem convencional. Na Inglaterra, várias unidades foram vendidas, e algumas exportadas para as ferrovias inglesas no mundo inteiro.
A então SPR, São Paulo Railway, que comandava o monopólio da Santos-Jundiaí para transporte ferroviário de cargas do interior para o porto, resolveu comprar uma unidade experimental, munida de um carro motor, três carros articulados e mais um para acoplar a outros comuns. Batizado cometa, realizou seus testes iniciais entre São Paulo (Luz) e Jundiaí.
No mesmo ano, fizeram o teste na serra, onde o impossível ocorreu. Pela primeira vez, um trem conseguiu subir o trecho de Raiz da Serra a Paranapiacaba a 100 km/h sem o uso do funicular. Nos testes seguintes, foi para 120, 130, 140, 145, 150 km/h na serra, e quase 165 no planalto. Em fins dos anos 1920, inaugurava-se o serviço expresso da SPR, com o cometa. Um ano depois, chegavam mais dois trens: o Estrela e o Planeta, que eram a mesma coisa que o Cometa, mas tinham aerodinâmica melhor que este.
Durante mais de 40 anos os três trens realizaram os serviços entre Santos e São Paulo, acoplando-se mais carros normais no trem, ou mexendo entre as composições, ou livres de peso. Por serem silenciosos perto do trem a vapor, e serem rápidos, muitos funcionários do pátio nevoento de Paranapiacaba morreram atropelados pelo "Fantasma da Morte", como ficaram conhecidos no local. Tiveram papel importante em 1932 na Revolução Constitucionalista e em 1943, na II Grande Guerra Mundial, levando tropas, refugiados, feridos.
Em 1948, com o fim da concessão inglesa na ferrovia, foi criada a Estrada de Ferro Santos Jundiaí.
Finalmente, em 1960, por falta de peças e por velhice, o último dos três trens espaciais da SPR se aposentou...
Até hoje, é possível ver os restos desses trens, que foram os avôs dos TAVs de hoje. Dois carros do cometa, um do Estrela e o carro motor do Planeta jazem abandonados em Paranapiacaba, como o fantasma do passado glorioso deles. Sem conservação, ameaçam sumir logo, na ferrugem. Logo eles, que são os únicos que ainda existem no mundo. Muito se falou em reforma-los, até a Inglaterra queria eles para tal, mas nada saiu da papel.
Na década de 1920, ainda patinava o uso de locomotivas a diesel no mundo, quando a empresa Armstrong da Inglaterra começou a produzir o primeiro trem articulado a diesel. Era algo revolucionário na época, trens movidos a diesel, com truques articulados e com cinco carros, além que o peso era três vezes menor que um trem convencional. Na Inglaterra, várias unidades foram vendidas, e algumas exportadas para as ferrovias inglesas no mundo inteiro.
A então SPR, São Paulo Railway, que comandava o monopólio da Santos-Jundiaí para transporte ferroviário de cargas do interior para o porto, resolveu comprar uma unidade experimental, munida de um carro motor, três carros articulados e mais um para acoplar a outros comuns. Batizado cometa, realizou seus testes iniciais entre São Paulo (Luz) e Jundiaí.
No mesmo ano, fizeram o teste na serra, onde o impossível ocorreu. Pela primeira vez, um trem conseguiu subir o trecho de Raiz da Serra a Paranapiacaba a 100 km/h sem o uso do funicular. Nos testes seguintes, foi para 120, 130, 140, 145, 150 km/h na serra, e quase 165 no planalto. Em fins dos anos 1920, inaugurava-se o serviço expresso da SPR, com o cometa. Um ano depois, chegavam mais dois trens: o Estrela e o Planeta, que eram a mesma coisa que o Cometa, mas tinham aerodinâmica melhor que este.
Durante mais de 40 anos os três trens realizaram os serviços entre Santos e São Paulo, acoplando-se mais carros normais no trem, ou mexendo entre as composições, ou livres de peso. Por serem silenciosos perto do trem a vapor, e serem rápidos, muitos funcionários do pátio nevoento de Paranapiacaba morreram atropelados pelo "Fantasma da Morte", como ficaram conhecidos no local. Tiveram papel importante em 1932 na Revolução Constitucionalista e em 1943, na II Grande Guerra Mundial, levando tropas, refugiados, feridos.
Em 1948, com o fim da concessão inglesa na ferrovia, foi criada a Estrada de Ferro Santos Jundiaí.
Finalmente, em 1960, por falta de peças e por velhice, o último dos três trens espaciais da SPR se aposentou...
Até hoje, é possível ver os restos desses trens, que foram os avôs dos TAVs de hoje. Dois carros do cometa, um do Estrela e o carro motor do Planeta jazem abandonados em Paranapiacaba, como o fantasma do passado glorioso deles. Sem conservação, ameaçam sumir logo, na ferrugem. Logo eles, que são os únicos que ainda existem no mundo. Muito se falou em reforma-los, até a Inglaterra queria eles para tal, mas nada saiu da papel.
Quem sabe, quando sair, seja tarde demais. A preservação desses carros é urgente, e eu espero sinceramente que a Prefeitura de Santo André, ABPF, Governo Estadual, Governo Federal e o Governo Inglês consigam reformar o velho Cometa.
POSTADO POR JOSÉ E JÔNATAS
Uma pena o abandono.Muito bom o artigo,novas gerações deveriam le-lo.Glaucio Elias
ResponderExcluirUma nação sem passado é uma nação sem história.A cada dia se mata pouco a pouco a história desde Paí. Tá explicado quando dizem que brasileiro tem memória curta. @PortalMatrix
ResponderExcluirLamentável que as ferrovias, no Brasil, estejam relegadas aos últimos lugares nas prioridades desses governos falidos.
ResponderExcluirNenhum trem andou na funicular com a velocidade de 100km por hora. Nos anos 70 eu viajei varias vezes de Rib Pires a São Paulo e vice-versa no Estrella, ele não foi aposentado no ano de 1960. Realmente esta é uma nação sem memória.
ResponderExcluirMeu avô, Alberto Rodrigues, foi o maquinista desse trem, creio que desde esta viagem inaugural. O Cometa foi o primeiro a descer a Serra do Mar pelo sistema de Cremalherias.
ResponderExcluirAlberto, orfão de mãe no nascimento, chegou de Portugal ao Brasil trazido pelo pai, Policarpo José. Fez carreira na SPR, desde foguista, até aposentar-se como inspetor.
Minha filha o chamava de Vô (bisavô na realidade)do relógio, porque sempre trazia seu inseparável cebolhão da SPR, preso por uma corrente no passante da calça.
Ao Cometa seguiram-se o Estrella e, creio,o Cometa Estrella. É uma pena que este país dê tão pouco valor a sua história.
Desculpe discordar. Na viagem inaugural e até a sua aposentadoria meu avô, Sr. José Machado, foi o maquinista oficial do Cometa SPR. Meu bisavô veio de Orense - Espanha para trabalhar na construção da Estação da Luz e meu avô bem como meus tios-avôs todos trabalharam na SPR. Meu avô ainda trabalhou com as "Maria-Fumaças" e um dos meus tios-avôs era o seu Foguista. Quando chegou o Cometa ele foi incumbido de fazer os famosos testes de velocidade, que na época era loucura, e se tornou o maquinista oficial. Meu pai conta que com 14 anos de idade, ele ajudava meu avô a manobrar o Cometa na Luz enquanto meu avô comia uma marmita antes da viagem de descida. Meu pai mantém até hoje uma carteirinha de "passe escolar" da SPR, que na verdade dava à ele o direito de viajar de graça por ser filho de Machinista.
ExcluirOutro fato, meu avô conheceu a minha avó em uma aldeia indígena no pé da serra em Piassaguera em uma das paradas para aguardar o acoplamento do Locobreque.
Muito linda a história e como sempre o romantismo permeando a história de todo bom ferroviário.
ExcluirOlá Eduardo,
ExcluirAcho que você não discordou! Como disse, meu avô paterno, foi Alberto Rodrigues, português de Villa Real, que chegou criança ao Brasil, filho único e órfão da mãe que morreu no parto. Fez carreira na SPR e nos contava, enquanto exibia seu cebolão gravado das três letras, de ter inaugurado como maquinista o sistema de cremalheiras na serra do mar. Com o fez carreira de foguista a inspetor, imaginei que poderia ter participado da inauguração do Cometa. Os lapianos mais antigos podem ter conhecido meu tio, José Rodrigues, apelidado "José Cometa" exatamente pelo fato do pai ter sido maquinista do mesmo. Meu avô foi maquinista do Cometa, do Planeta e do Estrela, mas apesar de meu pai, Adolpho Rodrigues, ter fotos do Vô Alberto tan to nas Marias Fumaças quanto nas Dieseis, não tenho comprovação documental de ter participado da inauguração do Cometa. Grande abraço e parabéns por postar sobre a velha Inglesa.
Disse "Cremalheiras", mas queria dizer "Sistema de Locobreques", me desculpe.
ExcluirAgora é tarde. Os trens abandonados em Paranapiacaba foram destruídos e vendidos para sucata.
ResponderExcluirEeeeeeiiitaaaaaa caboco mentiroso mais que a febre do rato! Esse trem era anti gravidade é? Inclinação de 8 a 10% e o trem não dispinguelava de lá de cima? Mas é cada história besta!
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