segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sistema Cremalheira começo, meio e não tem fim!

Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem... Raul Seixas.


Para comemorar uns dos maiores investimentos em logística dos últimos tempos a compra pela MRS Logística S/A da locomotiva de cremalheira mais potente já produzida no mundo a Stadler Rail He 4/4, e para que o erros do passado não se repita no futuro segue um post especial sobre os 10 primeiros anos de operação do Sistema Cremalheira/Aderência.

Conheça a locomotiva de cremalheira mais potente já produzida no mundo. 


A máquina, que chega em setembro, faz parte de um projeto de redução de congestionamentos e de emissões de CO2.
As locomotivas mais potentes do mundo começam a chegar em setembro para operar no trecho da Serra do Mar entre Paranapiacaba e Raiz da Serra (SP). Hoje, pela área se transporta principalmente minério. Apenas 60 mil contêineres por ano descem de trem até Santos (SP), porque as locomotivas antigas (HITACHI), da década de 1970, estão perdendo a força.
A ideia, com as novas locomotivas, é ir aumentando a quantidade de contêineres transportados por trem, tirando caminhões das estradas. Segundo a MRS Logística, somente com a operação das locomotivas e uma obra de 12 km de novas linhas que será concluída até o fim do ano, será possível retirar 2.000 caminhões por dia das vias. Colocados em fila, eles ocupariam 30km, emitindo CO2 equivalente ao de 35 mil carros de passeio.

"As sete locomotivas, compradas por cerca de R$ 130 milhões, carregam, quando usadas em dupla, peso equivalente a 140 elefantes adultos. A força de cada uma equivale à de 84 carros populares." Por: http://www1.folha.uol.com.br


Sistema Cremalheira - Aderência


Em 17 de janeiro de 1974, o então Presidente da República, Sr. Emilio Garrastazu Medici, entregava ao tráfego o Sistema de tração Elétrica CREMALHEIRA/ADERÊNCIA, com o  objetivo de atender a demanda de transporte sempre crescente, entre a região Planaltina e a Baixada Santista.

Paranapiacaba /SP.-Ano 1974-Teste do Sistema de Cremalheira.  Homenagem ao Sr. Alcides Honório Corrêa.Supervisor de Traçaõ.Falecido no Ano de 2000....Foto cedida por seu Filho: Sérgio Corrêa

Seu traçado, contornado a Serra do Mar, vencendo 800m de desnível numa extensão de 8 km, é o mesmo que foi construída a primeira estrada de ferro ligando o Porto de Santos ao Planalto. A “São Paulo Railway Company”, inaugurada em 1867, traspunha a Serra do Mar por meio de um Sistema de Tração por cabos de aço, em que o peso máximo de cada composição não podia exceder de 62 toneladas e o mínimo não podia ser inferior a 41,2 toneladas.
Anos depois, a expansão econômica faria com que outro sistema de Tração por cabos de aço fosse construído, paralelo ao existente. Inaugurado em 1901, o novo traçado, de 10,2 km, apresentava os mesmo princípios de funcionamento. O peso máximo ali permitido era de 128 toneladas e o mínimo de 60 toneladas.

As pontes da Grota Funda, um trecho ferroviário na Serra do Mar construído pela S. Paulo Railway Company, no início do século XX. Foto: Acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa http://www.novomilenio.inf.br/

Com o passar do tempo, as limitações existentes em ambos os sistemas não mais permitiam atender adequadamente o volume de transporte criado pela instalação de novas indústrias na Baixada Santista, nem mesmo com o trabalho ininterrupto, no limite de capacidade.
A então “Serra Velha”, que exercia função complementar, foi por volta de 1960, totalmente abandonada. Estudos, visando à ampliação da capacidade de Transporte, foram realizados, levando à opção definitiva do SISTEMA CREMALHEIRA/ADERÊNCIA.
Influía na escolha a questão da Via Permanente, de construção muito mais simples, de menor custo e instalação mais rápida em comparação a outros. A manutenção é de custo mais reduzido e secções de cremalheira têm vida bastante longa.


O empreendimento, inédito na América Latina, representou na época, investimento da ordem de Cr$ 145.061.000,00. Foram reformulados os pátios de Paranapiacaba e Raiz da Serra. O traçado teve correções de curvas verticais e horizontais. Duas substações foram construídas, uma com 9.000KW em Raiz da Serra e outra com 12.000KW em Paranapiacaba.
As Locomotivas Especiais, por meio de um Sistema retrátil, operam no trecho inclinado, com as engrenagens de cremalheira baixadas; nos pátios, estas são elevadas, permitindo a movimentação sobre travessões, etc.

Locomotiva HITACHI sendo desembarcada em Santos (SP) Foto: Zago

Uma dupla de locomotivas transporta no máximo 500 toneladas brutas no trecho inclinado. O intervalo entre viagens é de seis minutos. Sendo a operação em linha singela, a uma sequência de viagens em decida segue-se oura em subida, constituindo ciclos.
Na primeira fase, o Sistema contaria com Oito locomotivas, as quais foram numeradas de 2001 a 2008. Em 02/01/1974 os testes iniciais eram realizados. Em 08/01/1974, pela primeira vez o trajeto completo foi percorrido, pela locomotiva 2001.
Em 17/01/1974, o Presidente Medici viajou á Paranapiacaba em trem Especial, para as solenidades de inauguração do sistema.

Paranapiacaba/SP-Ano 1974-Teste do Sistema de Cremalheira. Homenagem ao Sr. Alcides Honório Corrêa..Supervisor de Traçaõ.  Data 08/01/1974 ,Onde foi feita a primeira viagem de teste do sitema de cremalheira.   Foto Cedida por : Sérgio Corrêa.

Alguns dias após a inauguração, os testes com carga e transporte de materiais para obras complementares, que ainda estavam em andamento, prosseguiam em ritmo mais acentuado. Porém, em 23/09/1974, ocorreu um grave acidente, quanto à locomotiva 2007, fora de controle, desceu parte do trecho inclinado em alta velocidade, vindo a tombar já no pátio de Raiz da Serra. Isto praticamente paralisou as atividades do Sistema, questionamento a validade do empreendimento em sua segurança. 

Locomotiva HITACHI década de 70

Muito tempo levou para restabelecer-se a credibilidade do Sistema. Peças e equipamentos foram acrescidos às locomotivas, para torna-las mais seguras. A locomotiva acidentada foi reposta pelo fabricante.
E princípios de 1975, completadas as modificações, rigorosos testes demonstrariam ter o Sistema alcançado alto nível de segurança. Apesar disto, a operação, naquele ano, resumiu-se em manter na serra, apenas uma dupla em tráfego.


Foto: Davi Boçon

No ano de 1976, a operação com três duplas começava a apresentar resultados. Porém, em 21/05/1976, um acidente provocado por falha na sinalização, imobilizaria uma das locomotivas a 2005.
Sem esta locomotiva, a operação ficou com duas duplas em tráfego, sendo reserva de Tração as três locomotivas restantes. Em 15/12/1976, os trens de passageiros iniciarão o tráfego pelo Sistema Cremalheira/Aderência. A carga bruta transportada naquele ano atingiu aproximadamente 2.500.000T. 
Em 1977, melhores resultados eram obtidos, havendo maior regularidade e aproveitamento. Em junho, passava-se de 16 horas de operação, parta 24 horas.

Foto de James Waite's 1977 Ponte seca

Gradualmente, o sistema caminhava para um desempenho satisfatório, com um significativo aumento de conhecimento das locomotivas, o que reduzia as paralisações das mesmas. Em setembro de 1979, já se operava com três duplas em tráfego, mantendo-se apenas uma locomotiva na reserva. O número reduzido de locomotivas, entretanto, não permitia dar continuidade a esta operação.
Em 1980, quatro novas locomotivas eram incluídas ao Sistema. Esta série (2009 a 2012) apresentava vários melhoramentos, criados a partir da observação da série original. Três locomotivas Dieseis Elétricas foram também adquiridas, para atender a manutenção no plano inclinado.
Contando com onze locomotivas elétricas, o sistema começava a operar regularmente com três duplas. Em 15/08/1983, o volume de carga a ser transportado exigia que pela primeira vez, também a quarta dupla fosse  utilizada, o que vem até hoje, sendo realizado. Em 1983 este recurso permitiu obter o melhor resultado de todos deste sua existência.


..."O recomeço é uma verdade evidente e negá-lo tem o mesmo efeito de ser contra a lei da gravidade. Embora possamos fazê-lo, nada muda. Vejo-o como oportunidade de evitar erros e cometer outros, de ter e repetir acertos e de novos aprendizados.
Penso que o recomeço seja como viajar numa estrada já conhecida por onde já passamos com pressa sem ter prestado atenção nas paisagens e sinalizações. Por mais longa que pareça essa viagem, ela começa com o primeiro passo. Enquanto ele não for dado, permanecemos no mesmo lugar"... http://degestao.com/


Por: Eng. Silvio Antunes – CHEFE DA UNIDADE SERRAS
Artigo publicado originalmente na Revista Transporte Moderno.



10 comentários:

  1. fui manobrador no patio de raiz da serra nos anos 78 a final de 80,trabalhava com as cremalheiras ,coisa linda de se ver a potencia desta maquinas ,sinto muitas saudades

    ResponderExcluir
  2. O acidente citado não ocorreu em 09/1974 e se não me engano,foi no mês de maio de 1974,numa manhã fria e chuvosa.

    ResponderExcluir
  3. ótima reportagem, o acidente foi pavoroso- sempre qualquer acidente é triste.
    Saudações aos Ferroviários

    ResponderExcluir
  4. Seria possível fotos de uma maquina da Estrada de Ferro Santos a,Jundiá que descarrilhou na Raiz da Serra que estava em teste de Gremalhera e desgoverno e ficou um bom tempo coberta por uma lona e um japonês faleceu.

    ResponderExcluir
  5. Já subi a serra com ela a 75 km/h a Hitachi pois a stadler não aguenta o reggae

    ResponderExcluir
  6. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=153931_02&pesq=cremalheira&pasta=ano%20197&hf=memoria.bn.br&pagfis=56837 - Reportagem da Tribuna de Santos, em 23/03/1974.

    ResponderExcluir
  7. Na foto da máquina 2001, meu pai, Nansy Bressanini, de saudosa lembrança, estava em cima da máquina. A RFFSA sempre foi a paixão dele.

    ResponderExcluir