Crônicas de uma paulista recém-chegada no sul do Paraná.
Trabalhadores lançando terra e saibro em cima de Vagões-prancha para a construção de aterros na implantação da ferrovia do Contestado. Imagem presente no livro Revelando o Contestado: imagens do sueco Claro Jansson (1877-1954)
No balanço ritmado do vagão escrevo
na ânsia da minha estação chegar. Da janela vejo a plataforma, passageiros
embarcando e desembarcando sonhos de felicidade. Entre as paralelas de aço, os
sacrifícios de centenas de trabalhadores que, desafiando a geografia e as
epidemias em meio à floresta, pagaram com a própria vida os custos da
modernidade. Em meio às ruínas e restos do passado, sobrevivendo ao
esquecimento, ouço o apito do trem quebrar o silêncio das paisagens mais
solitárias, desbravando a bandeira e encurtando distâncias.
O trem acelerou o processo de desmatamento doClaro JanssonAlém dos 15 quilômetros de terras de cada lado da ferrovia, que a Lumber ganhou do governo, comprou ainda uma área de 180 mil hectares de terra para cortar a madeira. Uma área, em termos de comparação, equivalente ao Parque Nacional do Iguaçu. Imagem presente no livro Revelando o Contestado: imagens do sueco Claro Jansson (1877-1954)
O traçado dos trilhos invade a mata
de araucárias do Vale do Iguaçu, alcança vilarejos e revela, em tons de sépia,
um generoso legado de ferro, progresso e integração nacional. Por aqui o
surgimento dos trens representou grande impacto econômico e alterou
definitivamente os costumes de uma sociedade que até então se utilizava das
embarcações a vapor para transportar pessoas, grandes mercadorias e animais.
Estação União.
A construção da antiga estrada de
ferro São Paulo - Rio Grande – que fazia a ligação entre Itararé (SP) e
Marcelino Ramos (RS) – marcou a era dos tempos modernos na região. O ano era
1905 e as cidades gêmeas ainda formavam um único povoado denominado Porto União
da Vitória. Comerciantes locais viram com entusiasmo a extração de pinheiros ganharem
impulso e o número de serrarias aumentarem significativamente. Para acompanhar
o movimento apressado dos vagões, uma rede de serviços – hotéis, pousadas,
restaurantes – ganhou vida para atender aos passageiros e à nova classe de
trabalhadores, os ferroviários.
ESPECIAL CADERNO CONTESTADO 100 ANOS – EMBARGADO – NACIONAL – Reproducao de foto do Contestado, do arquivo do exercito no Rio de Janeiro. FOTO: CELSO JUNIOR/AE
Os trilhos da São Paulo - Rio Grande
– que hoje separam União da Vitória e Porto União – também foi o cenário da
sangrenta Guerra do Contestado (1912 – 1916), que marcou a luta entre
paranaenses e catarinenses por limites territoriais. Na ocasião, os trens foram
muito utilizados como meio de transporte dos militares, e as estações se
transformaram em pontos estratégicos das tropas em ação.
Obra - Conflitos do Contestado de Nita Dircksen: A artista acredita ser necessário manter viva a memória da guerra. "É importante que as pessoas possam conhecer, estudar e formar suas opiniões pessoais sobre essa guerra que continua sendo confusa até para os historiadores".
Cobertas por capim ou
preservadas por moradores conscientes da importância do passado, as ferrovias,
que tanto ajudaram a construir a história do sul do Brasil, se transformaram em
cartão postal para turistas e hoje representam um dos maiores símbolos
regionais, ao lado do vinho, churrasco e chimarrão.
Por :Regina Maia
Sempre é bom ler essas crônicas,histórias e estórias que resgatam a vida dos nossos bravos ferroviários.Glaucio
ResponderExcluirMeu texto!!! Do meu antigo blog, criado num período de encantamento com o sul do Paraná! Satisfação em reler!
ResponderExcluir