sábado, 28 de maio de 2011

"Causos" - Estórias do Trem.

Diálogo Telefônico 

Estavam sendo freqüentes as reclamações de 
passageiros sobre o mal atendimento que recebiam quando 
telefonavam para o guichê de vendas de passagens para os 
trens do interior, na principal estação. 
Para constatar o fato, o Diretor da Estrada de Ferro 
resolveu ligar para o guichê, sem identificar-se. 
Começou ele, então, a verificar a procedência 
das reclamações com a própria demora de atendimento. 
Somente depois de chamar várias vezes é que o telefone foi 
atendido por um Agente, de forma áspera e deseducada. 
Depois de alguns momentos de conversa telefônica,
 em que foi maltratado pelo empregado, o Diretor 
perguntou-lhe: 
- O senhor sabe com quem está falando? 
- Não. Quem é? 
- Eu sou o Diretor da Estrada, fulano de tal. 
O Agente levou um susto, vacilou por um instante, 
mas retrucou, em seguida: 
- E o senhor, por um acaso sabe com quem está 
falando? 
- Não, respondeu o Diretor. 
- Graças a Deus! Exclamou o Agente, colocando o 
fone no gancho.


Ave Noturna

Irineu, Maquinista da velha guarda da Central do 
Brasil, contribuiu muito para o enriquecimento do folclore 
ferroviário, à época da locomotiva a vapor. 
Muitas de suas estórias dizem respeito à forma 
pitoresca com que ele registrava as ocorrências de suas 
viagens, com um vocabulário próprio e ignorando as 
normas gramaticais. 
Eis a reprodução de um desses registros, transcrito 
textualmente: 
“Sr. Dotô IL - 2: 
Na curva da reta de Itaquera apagou o faró da minha 
MK. Aparei a composição e averifiquei que o vidro 
do faró e sua respectiva lâmpada estava penetrada. 
Acredito que a composição acolheu um aribu. 
Ass. Irineu de Almeida 
IMK DO RP-4 
Em tempo: Não pode ter sido um aribu, porque 
aribu não circula de noite. Na certa deve ter sido 
uma quiruja”. 
Como se vê, o Irineu podia ser bom Maquinista, 
mas, na ortografia, o seu trem andava meio atrasado.


Atraso na Manobra

Ao analisar os registros de viagem de um 
determinado trem, o Engenheiro ficou intrigado. É que 
o Maquinista registrara que, ao realizar manobras no 
pátio de certa estação, o trem sofrera um atraso de 102 
minutos. 
Não era possível que o trem pudesse se atrasar por 
tempo tão longo em uma manobra que, sabia ele, não podia 
ser tão demorada. Além do mais, o trem chegara ao seu 
destino apenas com um pequeno atraso, muito inferior aos 
102 minutos que teria perdido na tal manobra. Se esse atraso 
houvesse de fato ocorrido, não poderia ser compensado, 
pois o trecho restante da viagem era muito curto. 
Assim, intrigado com o registro, o Engenheiro 
resolveu esclarecer o caso, chamando o Maquinista. 
- Que aconteceu, senhor fulano, na manobra do 
trem ... na estação de ..., no dia... ? O senhor registrou que, 
na manobra, o trem se atrasou 102 minutos. 
- Não, doutor, eu não escrevi isso. 
- Mas, olhe, está escrito aqui, com a sua própria 
letra. 
Ao olhar o documento de registro de viagem, 
mostrado pelo Engenheiro, o Maquinista esclareceu: 
- Ah, doutor, o senhor não entendeu o que eu quis 
dizer, O que eu escrevi aí é que o trem se atrasou apenas 
“1 ô 2” minutos...

Por: Victor José Ferreira do Livro: ESTÓRIAS DO TREM - Uma viagem no folclore ferroviário.
http://www.trembrasil.org.br

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