"Para se conhecer o futuro,
é bastante volver ao passado
e confrontá-lo com o presente,
pois, no dia de amanhã, é que amadurece
o fruto plantado hoje."
(Waldemar Werner)
Artigo idêntico ao escrito na Revista Correio dos Ferroviários da RVPSC, edição nº 415 de junho 1968.
Estação Ferroviária de Curitiba, final de década de 1950!
Quatro horas da madrugada. É bom que o Pedro das neves já tenha
acordado, senão êle nem vai ter tempo de tomar café e de se arrumar. Mas já
pulou da cama, felizmente, está prontinho e lá se vai, marmita em baixo do
braço, para a Estação de Rio Branco do Sul, onde dentro de trinta minutos vai
sair o trem do dia.
- Passagens, passagens. – O chefe do trem, o Ferreira, acordou mais cêdo
ainda e vai recolhendo os bilhetes dos operários, que está na hora do expresso
partir para a sua viagem diária. Para os acostumados a ir para o trabalho no
automóvel oficial, que pára às nove em frente da casa, no Volks ou, no pior dos
casos, de ônibus, ou de bicicleta, decerto imaginam que seja uma Maria Fumaça
caindo aos pedaços, puxando uns vagões construídos no tempo de Dom Pedro II.
Maria Fumaça coisa nenhuma. É uma locomotiva Diesel muito boa,
igualzinha à que vai para São Paulo.
E, lá vai o trem. Em Rio Branco do Sul, junto com o Pedro das neves,
devem ter embarcado mais uns quarenta trabalhadores, o que não chegou para lotar um vagão, cuja
capacidade é de 44, sentados. Daqui a pouco os três vão estar lotadinhos e vai
ter mais gente em pé do que sentada. O Pedro pagou 34 centavos de passagem. O
Antônio, que está apanhando o expresso aqui em Itaperussu, vai pagar 28.
Se o diálogo continuasse progressivamente, o Antônio diria ao João, de
Tranqueira, que o abençoado pela sorte é êle: 22 centavos. 5 e 15 da madrugada.
O João retrucaria ao Chico, de Almirante Tamandaré, usando os mesmos
argumentos, com outros números: 16 centavos. 5 e meia. E o Chico teria os dois
últimos dados para apresentar ao José, o cachoeirense: 13 centavos. 5 e 45.
Dentro desta lógica, o Chico teria que concordar. É, o sortudo sou eu mesmo.
E lá vai o trem. São seis e vinte e, agora é que está nascendo o Sol. Nasce o sol,
o trem chega à Estação Ferroviária de Curitiba. Descem, no mínimo, 240
passageiros. Apanham as trouxas a as marmitas e, passos apressados, vão
trabalhar. Estão andando depressa, para não chegar tarde; o patrão desconta de
quem não assina o ponto na horinha certa. A construção fica longe, pegar ônibus
custa caro, então pernas para que te quero.
Capa da Revista ferroviária de 1967.
Às cinco e quinze, saíram outros dois trens. Um de Roça Nova, parando
em Piraquara e Pinhais, outro de Passaúna. Primeira escala em Araucária. O trem
fica parado bem uns quinze minutos, entra gente prá burro. Também, a passagem
ainda está na base de 13 centavos e a de ônibus sai o dôbro. De Araucária,
cheio até a alma, o trem faz a segunda e a principal escala, na Vila Nossa
Senhora da Luz dos Pinhais.
- Passagens, passagens. Olha a fila. Vamos depressa, estamos atrasados.
A sua passagem, por favor. Não tem mais lugar. Tem que ir de pé, o que se vai
fazer. Passagens, passagens. Não tem mais ninguém. Ah, aquêle que vem correndo?
Depressa, môço, não podemos esperar. Sua passagem. Obrigado. Vamos embora.
E lá vai o trem. Só que em velocidade mais reduzida, em virtude do
excesso de passageiros. Coisa de rotina, todo dia é assim. Alguns em Passaúna,
muitos em Araucária e uma incalculável multidão na Vila. Três anos atrás, o
suburbano nem parava lá, porque a Vila não existia. Agora é a principal escala.
Os operários e ex-favelados preferem o trem, pois a passagem sai 13 centavos. A
do ônibus custa 20. Treze vêzes 25 cinco dias de trabalho, igual a 3 cruzeiros
novos e 25 centavos. Vinte vêzes 25, igual a 5 cruzeiros novos. Uma economia de
um cruzeiro novo e setenta e cinco centavos, no fim do mês.
E lá vai o trem. Chegou ao Portão.
Ao todo, são quase mil operários que andam nesses trens suburbanos, que
os passageiros de ônibus nem sabem que existem. Acordam cedo, para não perder o
trem e saem do trabalho às pressas, pois às 18H 10min deve estar na Estação,
para a longa viagem de volta.
E lá vai o trem, com Pedro das
Neves, o Antônio, o João, o Chico. Lá vai o trem, sacolejando nos trilhos da
Ponte Preta, por cima da João Negrão, onde trafegam os carros, os ônibus, as
bicicletas.
Artigo extraído da página nº 09 da Revista dos Ferroviários da RVPSC, edição de junho, 1968!
Fomos morar no Portão em 1948/49, meus pais compraram um lote de terreno no final da Rua Pará, loteamento Niepce da Silva. Com capital financiado pela C.A.P. - Caixa de Aposentadorias e Pensões, precursor do IAPFESP, foi construida a nossa nova casa, de madeira de pinho! Meu pai modelador nas Novas Oficinas da Rede, localizadas na Vila Capanema, para ir e trabalhar e voltar para casa, diariamente pegava esse Trem subúrbio, até se aposentar em 1966!
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