sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Som Do Apito : Controlando o Tempo do Trabalhador .


Fechando o cerco do controle e da disciplina o apito das oficinas, que ecoava pôr toda a vila em horários determinados e estratégicos tinha um papel marcante na organização não só do trabalho dentro das oficinas mas também do cotidiano de todos os demais moradores da Vila Oficinas, que acabavam organizando suas atividades por aquele sinal. O primeiro sinal, por exemplo, não tocava na hora da entrada, mas sim, cerca de 15 minutos antes “precisava deste apito para ficar de orelha em pé, para levar um susto” comenta o senhor Guardiano , também ex-chefe das oficinas. Era a organização do tempo de toda a Vila pelo ritmo da fábrica, tornando mesmo os não trabalhadores, aptos á uma nova organização do tempo. O  apito visava ainda convocar os funcionários, em casos de emergência. Ao tocar o sinal os empregados deveriam atender as emergências, mesmo que fora do expediente de trabalho, todos deveriam atender ao chamado  caso contrário, poderiam ser advertidos. Outra prática comum era a de chamar o ferroviário de madrugada para executar algum concerto.



Conjunto Vila Oficinas Curitiba - PR. foto: http://oficinaprojetos.blogspot.com.br

O então superintendente regional da R.V.P.S.C., o Cel. Iberê de  Mattos, ao referir-se mais tarde a Vila afirma que: “toda grande empresa deveria ter um vila semelhante. Dá mais estabilidade a seus funcionários, mais segurança”. Esta declaração do ex- superintendente da Rede revela a visão utilitarista que os órgãos dirigentes tinham a respeito da habitação além da importância da mesma para o bom andamento da empresa. Tal utilitarismo é declarado também no editorial da revista “Correio dos Ferroviários” de 1949 onde as diretrizes para aquele ano são claras: "O esforço e a dedicação do pessoal deve orientar-se no sentido patriótico e utilitário. Patriótico porque quanto mais produzirmos mais concorreremos para o progresso do Brasil. Utilitário porque, transportando mais e melhor,  daremos à Rede os meios necessários, para que ela possa desempenhar com mais eficiência sua grande missão”.




A Vila Oficinas apesar de construída com recursos de um instituto de previdência é perfeitamente comparável àquelas primeiras vilas operárias as quais já nos referimos neste trabalho, pois estava muito bem situada na lógica daquelas, oferecendo “conforto, satisfação e moralidade, de onde o trabalhador não precisasse sair nem ao menos para sua diversão. Vinculados ao aparato de produção dentro deste mecanismo sutil de dominação que é a própria habitação”. A Rede da mesma forma oferecia ou providenciava tudo o que o ferroviário necessitasse: alimentação, educação, transporte, espaço para expressão  religiosa, lazer e outros, deixando evidente em muitas ações a preocupação com o controle quase que total sobre os empregados.

Autora: Giselia dos Santos Melo
Orientadora: Maria Ignês Mancini de Boni
Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná  http://www.utp.br

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